quarta-feira, 17 de junho de 2009

Biografia de um Fim, parte 2

A queda livre.
Adrenalina-
-Insegurança
Prazer em não saber a quanto se está do chão.
A aceleração
do coração
do Salto
do corpo quebrando o ar
do desconhecido aproximando-se.
O fim da Queda Livre está chegando.
O fim está?
O que está se aproximando além d'O fim da Queda Livre?
Corta as marcas do rosto.
Transpassa o Bom-Senso coletivo.
Faz-me volta à infância.

Se vejo toda minha vida diante meus olhos antes do fim,
quem garante que não estava somente revendo o que já se passou?

A biografia de um Fim, parte 1

A vida estava estranha.
Este dia marcava exatos dois anos de despedidas daqueles únicos dois que tive coragem em chamar de amigos.
Os últimos dias estavam de tirar energias de pedras. Nunca imaginei que um dia me sentiria tão cansado. Não havia dormido a última noite nas rememórias de tantas coisas passadas.
Meu escape foi o trabalho. E trabalhei como alguém, não como Canastra. Do começo do dia, ao início da noite que tanto me chamava às ruas.
Andei ainda vestido de Trabalho por entre pessoas igualmente exaustas do dia, dos restos que envolviam sua vida. Andei mais do que devia, pois desistí de pegar a usual locomoção de todos.
Sentia falta da Cidade-Grande-Grande-Cidade. Andei por entre carros, e luzes, e ruas, e prédios, e tetos; ao céu, quem sabe. Não ousei olhar para os lados, para o chão, e muito menos para o céu. Ele não merecia ver o que estava andando sobre a sua terra de piso de pedras e asfaltos.
Peguei o celular para ouvir alguma trilha sonora do dia e, como sempre, segurei-o nas mãos. Os fios estavam em mal contato, por isso. Por vezes irritado, por vezes clemente; tudo dependente do que me cantavam.
Ao cruzar da rua um estranho me pegou pelo braço. Já havia sido assaltado quantas e quantas mais vezes pode-se imaginar, sabia muito bem como agir.
Me mandou passar o celular, ficar quietinho. Disse o estranho que estava armado, e provavelmente o estava. Senti algo cutucando minha coluna e preferí não duvidar. Preferí acreditar que aquilo estava acontecendo.
Parei no meio da passagem fechada aos carros, entre as duas ruas que deveria ou estar esperando ou chegando. Pessoas iam, vinham, sofriam como todos. Algumas riam. Algumas iam sozinhas, outras preferiam livrar-se do peso da solidão.
Parei, virei e ví o rosto suado, coberto por capuz. A luz estava ao meu favor e pude ver sua expressão de Aqui e Agora. Sua veia do pescoço arraigada por nervosismo e adrenalina. Meu coração disparado. Nunca, a tanto tempo, me sentí tão vivo.
Me chingou de alguma coisa e mandou eu me apressar. A situação estava ficando estranha.
Mandou eu me apressar.
Mandou eu me apressar, pois não estava de brincadeira.
Mandou eu me apressar, cutucou com força agora minha costela. Ele sabia como disfarçar, era bom nisso. Experiente, pode-se dizer.
Tudo que conseguí dizer foi apenas um susurro: "atira, mas corre muito, muito rápido, filho da puta". Ele deveria aprender que existem pessoas que não tem o que perder.
Se surpreendeu. Mandou eu me apressar, e não disse mais nada.

A vida é estranha.
Sempre tive muitas paixões mais fortes do que poderia explicar. Sempre intensas e vivas, mas nunca me apaixonei tanto por alguém quanto tinha paixão pela Vida. Sentia um tesão imenso em querer saber o que aconteceria quando eu acordasse no próximo dia. Um amor imenso que reviví alí.
É uma paixão que se transformou em vingança.
Sentí tesão em saber o que aconteceria alí.
Disse, susurrando;
atira, mas corre muito, muito rápido, filho da puta.
Engraçado, tenho a sensação de que, em meu nome, esse filho da mãe nunca correu tanto na vida.