quinta-feira, 29 de outubro de 2009

PhotonGrafia


Uma Biografia Real

Moço, cê faz foto três por quatro, moço? Ah, faz? Vou querer duas então, moço. Ah, vem oito? Mas não precisa tantas. É, se vem oito pelo mesmo preço, vou fazer.

Moço, ando n’uma tristeza. Minha filha morreu, mais o marido. A quanto tempo? Vai fazer quatro anos, moço. Quatro anos. Ninguém mais chora, menos eu. É uma tristeza, uma tristeza. Imagino, moço, imagino.

- Disse-lhe que nem sabia o que dizer; uma verdade, nada mais.

Moço, morreram na hora, na horinha. Acidente. Ninguém sabe muito bem como foi. Quatro anos que ando nessa tristeza, nessa tristeza. Tinha acabado de se mudar, ela mais o marido, p’ra uma casinha deles, ela tinha a recém se formado em pedagogia; e morreu, moço. Ando com o olho seco.

- A esperei ajeitar os cabelos extremamente grisalhos e cansados – como suas mãos, sua expressão. Pedi que se ajeitasse na cadeira com as costas retas e sua pose imponente me surpreendeu imensamente. Rosto rijo, corpo duro; uma mulher pedra pelo tempo. Na foto não mais que esta mesma não somente impressão.

Moço, fica pronta quando? Ah, agora? Vou esperar então.

Mas moço cê não vai acreditar, acredita que to com enfisema pulmonar? E eu nunca fumei! Meu marido que fuma desde os dez anos e eu não sabia, mas o médico disse que ficar do lado é como fumar junto! E ele, nada. Me canso para qualquer coisa e antes eu quem fazia tudo; capinava, limpava, trabalhava numa escolinha limpando sala e quadro-negro. Não sabia que fazia mal aquilo lá. Dezessete anos com giz na cara; chegava em casa com o rosto e o cabelo brancos do giz. Mas eu gostava. Agora tenho medo de andar sozinha na rua, vai que me dá um sufoco!

O médico me mandou tomar uma pílula se sentir dor, e passa sim. Vai saber, agora ainda mais com o verão. Tive que fazer uma consulta de duzentos reais, me deixaram fazer em duas vezes. Cloroplas-alguma coisa colorida. Ah! Sabe qual é, então, esse mesmo! É, é, é um nome difícil de falar mesmo, eu também não sei, moço.

Um absurdo, eu faço tudo pelo postinho e tive que pagar. Tudo de consulta no postinho. Até to esperando uma consulta a mais de ano e meio e já to vendo que vai acabar esse e ainda nada. Tive que ir fazer uma consulta para ver se era enfisema mesmo, e era. Soprei e deu positivo. Às vezes tenho uma dor, uma dor de querer ficar o dia na cama deitada. Um cansaço. Mas tenho que cozinhar, tenho mais quatro filhos para cuidar; eu quero viver. Mas com a morte da minha filha mais velha, ai. Ela tinha recém se formado, moço.

Eu sei, eu sei.

Não é de ficar indignada? Não é um desaforo eu passar por tudo isso? Mas se Deus quis assim... tem que aceitar. É não? Diz meu marido que vai morrer mesmo, por isso não para com a fumaça toda; quero ver quando ficar entrevado em uma cama. E o moço aqui, cuida da saúde, cuida! É o que a gente mais tem de precioso, moço. Obrigada pelas fotos, qual teu nome mesmo? Bonito nome. O meu? Avaní. O prazer é meu, meu filho. Fica com Deus.

- Apenas senti sua tristeza durante a conversa e a essa senhora foi me comover logo com um sorriso de despedida. O único. Saiu pela porta de vidro sorrindo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Entre-Linhas, parte 8

Estou com um pequeno problema de justaposição de idéias;
não sei se espero estar errado ou se o errado é esperar.

sábado, 17 de outubro de 2009

Entre-linhas

Precisei enlouquecer para olhar para trás e ver como nunca antes havia sido realmente normal.
Aí eu sonhei que caía, e caía, e caía; não parei de cair até acordar e precisar levantar e ver como a gravidade é algo realmente engraçada quando não se quer fingir sentir o peso de uma nova manhã.