sexta-feira, 25 de setembro de 2009

PhotonGrafia, parte 3 - Cinema Cotidiano


Cinema Cotidiano
Upload feito originalmente por Amnesiac.

Ontem, no ônibus, estava pensando em algumas coisas. No meu sono, na minha fome, no chopp que tinha tomado com minha avó àquela tarde, na minha pressa, na roupa molhada da chuva, nas contas de fim de mês, na fila do cão que estava o trânsito. Na minha pressa.
Em quanto o tempo passa. Em quanto isso me preocupa, em como isso é tema do cotidiano.
Em quanto as chances passam; Enquanto tudo não deveria passar de acontecimento - arrependido ou bem sucedido.
Aí, quando ví, já estava em casa. E a família já estava chegando do trabalho ou da aula. E traziam comidas, e compramos bebidas, e conversamos e tudo que Na Pressa se resumia, morreu.
Esvaiu; é a palavra. É.
Dentre as sinceridades e brincadeiras de ontem à noite, nada mais deveria interferir.
- Esvaiu.
Durante hoje me peguei pensando o quão inútil é estratificar o tempo em passado, presente, futuro.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Biografia de ex-par.

Beijo beijava boca dizia murmúrios ao ouvido ouvia suspiros tocando entradas carnes ou vontades por prazeres - interesses - sentidos esperados.
Boca mordia boca, mordia boca, mordia forte, beijava boca, beijava pele, beijava lábio, mordia forte; mantinha ambos na cama, na Terra.
Chegando ao céu puxei-te ao quente do teu sangue. Mordia forte, desculpe. Beijei para sarar.
Assistí filete ordinário teimar em não escorregar por teu rosto rubro.
Olhava-me também, quem sabe para meus dentes; talvez. Nem importou-te depois dos Ah's a mais.
Ficamo-nos vendo corpo respirando, hora tardiamente acompanhando avião que em horas traria-nos tua partida.
Sei que pensamos juntos em tuas malas pouco ajeitadas, em nossos dias, até este, pouco arrumados. Pensamos juntos alguns "esperei tanto por isso";
"o dia raiou, enfim!".
- Em fim acabamos nós. Pensei junto contigo.
- Como esperávamos. Pensaste junto comigo.
- Como temíamos...
- Como quando nos amávamos...
- Amávamos, sim.
- Amo; mas agora a mim, mais. Pensamos juntos.

Foi eu quem adormeceu primeiro.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma Biografia dela.

A mim já não dói a distância.
Dói a esperança.

Todos sentem falta de alguma coisa, alguns até a cantam. Eu canto o pedaçao de papel a 6 dias deixado na porta da minha casa, da nossa casa.
Foi tanto ódio que faxinei cada canto que ainda pudesse haver o seu cheiro ou qualquer fio de teu cabelo.
Hoje... hoje nem sei. Hoje... só espero que não seja como amanhã.
Hoje abri a porta para ir até o correio; esperava poder dar uma resposta ao seu antigo endereço. Uma única resposta, qualquer coisa. Ví como seria estupidez a minha, tendo em vista nossas conversas sobre o quanto odiava o lugar em que morava.
Hoje abri a porta para entrar em casa e reparei no tamanho de minha esperança em ver você sentado no sofá. E olhando pra mim, e sorrindo me dizendo Olá.

A mim já não dói a distância, ou seja lá onde você está com a cabeça.
Dói é a esperança de ver você voltar e perguntar se é verdade.

Biografia de um recado na porta.

Manda teu corpo não deixar o peso da tua beleza estragar teu jingado rebolado. Desdiz o oposto do que dizes por aí para mim. Dizem do corpo. Digo da tua dança.
E que belas garras são teus olhos. E que belas mastigadas dão teu sorriso em minha alma.

Mas não posso mentir. Quando saí não imaginei ficar estancado dois anos no mesmo lugar, e não vou deixar acontecer o mesmo de novo. Não posso.

Com amor e pesar,
Maestro.

sábado, 19 de setembro de 2009

Biografia de todo fim, inicio.

Quando fiquei sabendo não pude negar a volta. Não pude conter pneus de carro em asfalto. Corrí como Canastra correria por um Rei morto.
O filho da puta conseguiu o que queria. Por mais que negasse, consegui chegar intacto na Cidade-Grande-Grande-Cidade de todos dias cinzas, com todos seus enormes prédios cinzas em meio a tantos rostos imutavelmente pálidos.
Entre o segundo dia de sua morte, em que fiquei sabendo, aos dois dias de viagem, tudo que tinha para acontecer já havia acontecido. Encontrei apenas com um singelo epitáfio, dentre um mar com tantas pessoas que Canastra não suportava olhar nos olhos. Não havia chorado ainda.
Ainda.
Vê-lo em pedra, calado.
Vê-lo assim. Doeu mais pelo seu meio que pelo seu fim. Entendia Canastra como Maestro não conseguiria entender. Entendia seu orgulho como ninguém, e chorei.
Foi enterrado às pressas por pessoas que pela pressa da vida não interferia o sangue.
Não levei flores, tampouco colocaram alguma e, como sempre, chovia fino.
Pode parecer loucura mas, não sei dizer, apenas aqui chovia em dança e, esta dança principalmente, não era fúnebre como a de todos os dias. Era dança de música do momento de rádio do carro em estacionamento.
Molhei novamente os ossos antes de ir ao apartamento de Canastra. Assim como me avisaram de seu enterro, seus familiares também cederam o lugar a mim e ao Maestro - este que não conseguiram localizar, após insistente única tentativa.
Voltei e encontrei sua vida.
Voltei e me encontrei com uma culpa imensa. Deparei com saudades.

Última Biografia de Canastra

Nessa noite nem os cachorros encorajaram-se a latir; tampouco eu ousei olhar para baixo. Não arrisquei saber no que estava pisando.
Apenas um gato me fixou o olhar, ainda que escondido na sombra de um poste. Olhos brilhavam em amarelo - curiosamente a mesma cor do pijama escondido por jaqueta verde.
Enquanto ia me polpei das preocupações que teria na volta; ao sair da loja de conveniências percebí dois moleques me encarando. Virei tantas vezes quanto me sentí seguro em fazê-lo, mais parecendo puta atenta a carros que não passavam, a pessoas que descansavam caladas em suas camas quentes - abstendo-se do céu vermelho-nublado pintado por luzes artificiais das duas e trinta e sete da manhã.
Falara com apenas duas pessoas durante.
O atendente da Am/Pm na compra de uns cigarros e com um cara que me pedira um, já na volta.
Estendeu a mão agradecendo. Apertei-a.
- Meu nome é Victor, e o teu?
Apenas respondí.
- Indo ou vindo de alguma festa?
Respondí que viera apenas comprar alguns cigarros, já estava voltando para meu apartamento. Nada muito longo.
Conseguí seguir em frente. Gente boa o cara, apesar dos dois metros de altura e minha calma perante seu olhar convidativo.

Não é a noite mais perigosa, eu que havia perdido o jeito.