domingo, 6 de novembro de 2011

A última dose de Canastra


Mais uma dose de Canastra.

A música estava alta.
As doses estavam grandes, os goles estava fortes, as luzes estavam... as luzes estavam.
As bocas estavam quentes.
E mais uma boca.
E mais uma boca.
E mais outra boca.
E estava eu ali tão eu quanto sempre estive.
A música,
as doses.
Encontrei quem me disse palavras bonitas ao ouvido. Acreditei nelas, como Santo acredita em promessa de quem acredita em Santo; ouvi as palavras calmamente, senti as palavras calmamente, peguei o telefone das promessas como quem, em algum movimento de teatro, ilude as palavras a realmente lembrar seu nome. Não lembrava, porém tampouco as palavras ditas pareciam saber de onde saiam. Meras retoriedades.
Meras palavras.
Meras bocas.

A hora passava.
Em cada toque uma vontade de não ser tocado por quem tocava, mas as luzes piscava forte e a cegueira do momento exigia qualquer movimento contra a solidão eminente. Era necessária esta falta de solidão. Se fazia necessário o toque exatamente pelo fato de não pelo toque, mas pela falta do toque. O suor crescia. A memória...
se você soubesse...
cada respirar fundo antes...
cada imagem antes...
cada antes...
cada...
cada nome esquecido, número perdido, olhar ignorado. Cada caminho não trilhado.
Cada coração partido.
Estavam todos sorrindo, os pobres solitários felizes. Estavam todos dançando encantadoramente, e os braços mexiam-se, e as pernas e seus pés com seus passos fantásticos, e seus pulos e suas roupas bem pensadas; e seus olhos marejados.
Entendo os contentes por tudo isto. Os fiz entender. Os ensinei isto. Eu os inventei.
Os colchões desconhecidos,
os dias seguintes,
os cafés seguintes,
os nus desenvergonhados. Eu os inventei. Vocês bem o sabem.
Os inventei depois de tantas partidas e pouquíssimas chegadas; vejo isto apenas agora.
Sinto que agora,
apenas,
entendo isto:
este desespero pela companhia,
seja quem for.

É realmente triste isto,
de não ter com quem realmente dançar;
a música
e o silêncio,
as luzes que brilham
e os cantos escuros que fazem o show,
o campo minado que é esta variedade
de corpos que explodem de solidão.
Vejo isto apenas agora:
estão todos à procura não do beijo,
não da transa,
não do bom dia desconcertado,
muito menos do:
- Te vejo por aí.
Estão todos em busca do abraço,
das pernas entrelaças,
do aperto da cama de solteiro.
Da falta de sono
pelo prazer.

Uma pena eu ter de ir trabalhar no dia seguinte.
Acho que, na realidade, terei meus fones de ouvido como companheiros. Acho que finalmente entendi. Entendi,
finalmente,
o tamanho da solidão;
a grandeza do silêncio.
E não há nada, aparentemente, que possa me explicar como falar.