domingo, 28 de março de 2010

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Pra que serve a saudade, afinal?
Amo meus filhos, mas que falta me faz ter sido filho de alguém. Bons tempos que até me veio um sorriso, ou algo parecido com isso.
Olho pelo retrovisor e vejo meus filhos, imagino-os crescidos.
Olho para o lado e vejo minha esposa, e imagino como teria sido com outra. Todas aquelas meninas lindas do colegial e da faculdade... e casei-me, diante todas opções, com ela.
Tempo louco. Estava quente, esfriou, e agora me parece que vem chuva.

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Quanta saudade de minha pele jovem. Se me tocasse novamente como eu era antigamente sentiria seda em minha mão, e é uma pena eu não ter percebido isso àquela época. O tempo da chegada das televisões preto e branco, onde tudo me parecia mais mágico que agora. Todas as descobertas me eram tão especiais... agora... agora o quê? É correr, meu filho. Correr atrás da vida, e rápido.
Quanta saudade das minhas tetas em pé, dos meus pés e das minhas mãos bem cuidados - e não se engane, pois cuido-os; mas o tempo se encarregou de não deixar nada o mesmo, nem a casca nem o resto que me cabe. É correto que nada nunca será; e é para isso que sinto saudades, não é mesmo?

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Olho para o banco de trás e vejo pequenos "eu's mais minha esposa", rindo e chorando sem saber o peso que rir ou chorar teria em suas vidas dentro de uma ou duas décadas.
Para eles me parece tão fácil. Não precisam de bons motivos ou algumas doses.
Agora dormem tranquilos.

Ah...! Que saudade... que saudade de me deitar em minha cama e fechar meus olhos e sentir que a única coisa que me atordoa é a ansiedade pelo próximo dia, ou pelo Natal. Hoje, se me deito para dormir, só rezo para que amanhã passe rápido o bastante para que o começo de mês chegue logo, e todos os Happy Hour's começam a valer à pena, ou que todas aquelas vidas que passam pelo meu carro apenas passem e não deixem marcas.

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Me olho no espelho do retrovisor e tenho que escolher entre meus olhos e minha boca, e percebo o quanto minha vida foi isso.
Ou presto atenção nos traços fáceis da beleza comum ou... bom, sempre escolho os olhos. A burocaria da inteligência é muito comovente, mas pouco prática. Como toca e qualquer democracia, demora e toma tempo. E tenho pressa.

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Me olho no espelho do banheiro e mal vejo meu rosto. A fumaça do banheiro quente não é o problema, para isso passo a toalha e torno a imagem viva. Mas e eu?
É só um passar de toalhas que me repaginará? Não sou reflexo de espelho, sou no máximo o rosto cansado refletido em pedra.
"A vida veio e me levou com ela", disse Cazuza. A nossa diferença é que ele morreu para viver. Pessoas como eu apenas vivem para morrer.

1

O tempo passa rápido. O tempo passou rápido, muito rápido. Parece que está com pressa; é aquele aquele carro apressado na sua cola em dia que você que você quer só passear; buzina e te xinga enquanto tudo que você queria era voltar de uma tarde tranquila de domingo na Redenção. Você fecha as janelas do carro, mas do que adianta?
Entre as buzinas e o silência do Tic-Tac'ar constante do maldito relógio de pulso fico com... sei lá. Qual escolher?

quinta-feira, 11 de março de 2010

O garçom e o futurólogo bêbado

Trabalho por agora num bar
atendo tudo quanto é tipo de gente
escuto causos estranhíssimos

Pois me veio um homem bêbado dizer saber o que se passa
aí que me contou que dentro de mim há alguém que amo
e que este alguém que amo foi-se embora
e que este eu espera pelo alguém que amo voltar

Me veio o homem dizendo
és homem bom
vais enriquecer, ser reconhecido
e virar padre

A primeira parte é verdade
a segunda faz parte

Um Inteiro

Nada de bom veio com a fumaça,
nem o trem
nem a trapaça
Nem tento me desculpar por minhas falhas
nada devo ao mundo
nada vivo preso a muros

Nunca tentei mais que posso
não suporto esse sufoco do
não posso, não podem, não podes
Não tentar vaiar quem esvai o tempo por medo
nunca aches que
nunca acharás teu lar, nunca verás teu mar, nunca serás teu par

Se andas sozinho, ande sozinho inteiro
não sozinho catando os pedaços de gente latente por
supor a felicidade assistindo vídeos auto-explicativos
sobre a roda, o fogo, e o nada

Nada mais é pouco
nem o grão
nem todo chão
Nem o todo
nada mais é que
nenhum mistério desvendado

Se ando sozinho é por andar inteiro
caso não esteja sozinho é para ser mais que um

Ele é um comediante!

De tão engraçado rio junto
e mal posso esperar pelas próximas risadas
se quem rí por último, rí melhor
lanço o desafio
vem testar minha paciência
cada sacada sagaz
cada pitada de ironia
me ponho a rir na cara do perigo
e sorrio!

Ele é o melhor dos comediantes
criou a melhor das piadas
e descansou no sétimo dia
mal sabia Ele onde se metia
ao final das contas
teve gente que não achou nada engraçado
cada piadinha insana
cada coicidência estranha

Eu sei,
depois que passa a gente rí
mas e daí?
daí que sim
recusei três, quatro vezes,
a todo jogo
e recuso pela quinta
anota com tinta
endireita as linhas
endireita as linhas
endireita todas essas vindas
por já ter me cansado de todas despedidas.

Amei Mas (ainda) Sinto

Amei
até que não pude mais amar
aí que resolví amar mais,
só de sacanagem.

Mas
ultimamente ando me amando
ou tentado, ao menos
mais amar

Sinto
reflito mais sobre isto
ei de ganhar a loteria
uma vez que se deduza eu ter sorte no jogo

Como sempre

Como sobreviver sempre do mesmo
se no mesmo sempre descanso
É alguma coisa na água
ou essa chuva toma por inteiro cada passo
Cansei de falar sempre o mesmo
e sempre desencadear os mesmos argumentos
gastos pelos mesmos sentimentos fortes
fortemente enterrados,
como sempre.

É você meu mal, meu bem

Não venha me fazer parar de tomar
tanto...
café
é você o meu mal,
meu bem

É você o meu quem,
da pergunta
quem te faz sofrer,
meu bem

D'outro

Quando te ví pela segunda vez
nada mais era tão puro
nas ruas nada conseguia não ser tua

Quando te ví pela última vez
nada mais era tão crua
e nas ruas eram apenas pessoas correndo da torrente de chuvas

Ainda lembro da primeira vez
sem nome ou rosto ou corpo
sem tensão ou assombros ou ignorância
trocamos meia conversa sem nem saber a resposta
pela simplicidade da ocasião
e ríamos por vontade, não por motivos
e queríamos ainda os sonhos que nem sabíamos quais eram
um do outro
e que seríamos do outro

Queria eu saber do final
aí entenderia que bem ou mal
me lembraria da primeira,
da segunda vez;
aí entenderia que não existe como haver um se não
nada mais é um coração se não
isto:
d'outro.

Enfim fim

Cansei de tentar ver por quais
meios
por quais
fins
deu-se por vencida esta história

Parei com justificativas
dei-me por convencido
é ser
então, novo
este indistinto
agora, começo,
pois, novo
início; sem
enfim , fim

Carta

Não que eu queira lhe ferir, mas este estilhaço passeando por seu corpo é propositalmente para lhe provir a dor. Não, nunca vou me esquecer de nossas notas musicais em terças e quintas, e tampouco vou cantá-las. Não há porque deixar a hipocrisia me tomar, se já tomaste todas por solidão em apenas um gole. Haverá, deveras, de entender. Haverás que, por conseguinte, permanecer calado, sem dar nenhum passo. Terás que sofrer, por mais que não queira que sofras. Terás que me olhar, por mais insignificante que sejam as trocas de olhares. Vais te deixar cair em tentação em me falar, e vais te lembrar que já te pus em teu lugar.
Não me leve a mal, negócios são negócios, e o resto que nos seja a parte. Não fique mal, negócios são negócios, e que tudo que nós vivemos esteja à parte.

Com amor; nem o chão, nem o céu. Mal sou meu e ainda queres que seja teu...
Você realmente quer
quer me mostrar como dançar
pretende me ensinar novos passos
quando fui logo eu quem lhe ensinou a andar

Tenho vocação para a vida
seja ela dor, desde que seja ela viva

Não venha dizer
não venha fingir nem
nem tente abrir meus olhos
quando estão descansando
apenas descansando

Tenho vocação para mim
espero que você consiga sentir
o que sinto
minha vibração não é tão fácil de trair
Vou aproveitar a vida
antes que ela se aproveite de mim.
Vou quebrar as barreiras
e provavelmente minha cara.
Temo o que não conheço,
então vou conhecer tudo.
Queria poder ser diferente
me sentir satisfeito com o tempo
e parar de querer Sol quando há Chuva
e de querer Chuva quando há Sol
Me tranquilizar e trabalhar como Servidor Público o ano inteiro
só para aproveitar quinze dias de férias ao ano
e achar bom.
Sonhar com mais três na cama, quando eu quero só um.
Queria parar de ficar nessa de não saber
se vou ou se fico
de desvairar ou tomar algum partido
Se não encontro as palavras
se me perco em raciocínios
quer dizer então que não mais sinto
que apenas revejo
cumprimento
saúdo
e deixo ir embora
ou digo à mim
algum até amanhã
saudoso
saudoso tempo
e desejo saúde
por não me desejar a falta e
por agora,
não saudade

Dois buracos

Então é isso, demorei tanto para ser vencido por uma frase de banheiro. Apareceu em discussão de bar e arrebatou argumentos e dúvidas.
Então era isso o tempo todo:
Cavei dois buracos, e joguei toda terra do segundo, no primeiro.
Resume-se a isto. Pedí uma liberdade e sacrifiquei outra. Sacrifiquei por gozo ou sacrifiquei por precisar provar a mim mesmo da qualidade da água que bebia?

Ao Passeio.

Por fora cicatriza os cortes, os hematomas. Por dentro fere-se a alma, o coração. O tempo acata seu dever de apenas ater-se àquilo lhe dado: ao passeio. Eu me detenho apenas em ter-me por inteiro.

Sem pressa é o que o mundo inteiro insiste em me ensinar, e que eu persisto em errar.