terça-feira, 24 de março de 2009

O analista de expressões

O cotidiano me fez analfabeto.
A pressa
A pressa pela perfeição.

A perfeição
A perfeição que me apressa.
Me suga, me sufoca em abraço em "Bem-vindo ao novo dia". Mas e chega outro,
e outro. E outro, de novo.

De um frio que faz da gota, 
adaga.
A última gota não dói.
Rasga, mas não dói. Mata.
Mas morrer,
de novo,
não dói.

Não sou gato de sete vidas. Sou gente,
que como toda gente,
tem mil eu's ao mês. A cada dia, ao menos três.

O cotidiano me fez analfabeto;
e analista de expressões.

Entre-linhas, parte qualquer.

É tudo estranho 
aos olhos de um normal
ao mundo meu, tão normal
aos olhos estranhos meus

Junto pouco
para mostrar o
tanto que se aprende em tão pouca vida.


segunda-feira, 16 de março de 2009

Biografando um Passado Canastra, parte 1

No final das contas a maior guerra que podemos presenciar é esta: como esconder a sombra quando se quer vestí-la.

Muitas frases inteligentes alienam e emburrecem;
tudo faz sentido, tudo é verdade.



É como se eu quisesse ver as casas pegando fogo.
É como se eu quisesse ver as coisas desabando, incessantemente; como a chuva.
Uma chuva tão forte que nenhum incêndio possa secar.
Uma fogueira tão intensa da qual nem tantas tempestades consigam apagar.
Mas esqueço que não sou Filme. Meu estômago dói; os pés estão realmente molhados, e gelados; e eu, de um modo inquestionável - e desgraçado - me sinto culpado.
Nas casas existem crianças que eu poderia ter sido; homens que eu poderia ser um dia, quem sabe. Apenas as mulheres são felizes; elas eu ainda posso ter. Ainda posso estragá-las, como me estraguei. E, por conseguinte, as crianças e homens.
Os atores são eles. Passageiros. Dirigir, sim, cabe a mim. Passageiros são eles, como todos.

Eu não acredito em Deus. Só acredito em quem acredita em mim; e sei que, ao menos Ele, não seria Tolo o bastante para isso.