quarta-feira, 30 de julho de 2008

Politicuzinhos.

Politicuzinhos,
filhinhos mimados de papais.
Politicuzinhos,
filhinhos da mamãe que nem vou comentar.

Palavras bonitas,
sorrisos brancos!
Politicuzinhos de merda!

Sabem falar,
sabem se vestir,
e sabem muito bem o que estão fazendo!
Politicuzinhos de merda!


Cães tão bravos quanto linguiças enlatados.
Vestem a carapuça,
não desmentem o maldito,
deixam para trás o que é dito,
assim como você:
sociedadizinha sem ida!


Deixem tudo como está,
esqueçam quem está,
mesclem o bem-vindo com o não dito!


Politicuzinhos de merda,
eu sei, a culpa não é sua.
Politicuzinhos de merda,
eu sei, a culpa não é sua.
Politicuzinhos de merda,
eu sei,
eu sei que a culpa não é sua.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Biografia do dedão.

Em meio ao nevoeiro de ar e vento preto da grande Grande Cidade-de-sempre, o mestre da falta de nervos, Maestro, correu pela irritante e estressante via única de uma mão. E que subia, para piorar.
Não tinha trânsito, não tinha quase ninguém. A chuva passara a muito, o verão chegara, a alegria permeava as outras cidades de praia. E ele lá.
Rei e Canastra, ambos estavam por lá também. Mas o cérebro de Maestro fervia pelas mesmas ruas, de sempre mesmos nomes, de pessoas de mesmos sempre nomes com carros sempre das mesmas cores e prédios sempre, sempre cinzas - que pareciam mais espinhos em uma terra cheia de dores.
Dividia um ap. com Canastra na esquina oposta à esquina de Rei, e nem eu sabia direito onde ficava. Nem os dois depois das noitadas, que sempre acabavam no prédio do amigo. Mas Maestro estava lúcido, e sentia seu dedão formigar tanto quanto suas idéias e sonhos juvenis. Após anos e anos em cárcere privado, e privado de sua vida que ninguém o privara, zuniu pelas escadas até seu quarto andar, de um total de sete.
O dedão coçava, e a lucidez mais certa após tocar no armário, e o abrir e por na sua mochila quase toda sua pouca vida.
Passou a mão na vida e colocou-a nas costas. Vinte e cinco anos, e ainda estava leve.
A sua chave deixou na caixinha de surpresas e de contas para pagar. Deixou, também, um pedido de desculpas para o colega de quarto e um pedido de qualquer coisa que lhe conveio na hora para o colega segundo.

Ao terminar de sonhar, caiu tanto na realidade quanto em uma estrada de saída da cidade Grande, grande ex-cidade de sempre. Levantou a cabeça, o braço e então a mão.
Na mão: levantou Isto, o dedão da mesma mão, e partiu então.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Biografia da noite-insônia

A noite teve a ousadia de estar tão escura quanto seus olhos. Seus olhos ousaram não descansar, estava concorrendo com a maldita hora.
E Rei estava terrivelmente transtornado com tal caso.

Olhos abertos, luzes apagadas, corpo suando de tensão e ansiedade. O sono não vinha, e seu nervosismo lhe fazia mais consciente. A chuva lá de fora, que deveria ajudar a acalmá-lo, mal fazia cócegas. Aliás, fazia-o pensar em coisas como:
-Será que essa chuva não vai parar?
Ou:
- Será que vai parar um dia?
Ou, ainda:
- O prédio vai destelhar! - lógico, isto deve ter sido lá pelas quatro da manhã, pois esqueceu-se que seu prédio, como tantos outros, ou quase todos, simplesmente não tinha telhas.

Os lençóis macios agradavam seus pés. Rei estava estressado, mas agradecia ao seu consumismo. Havia comprado todo o jogo de lençóis e etc's em uma ótima promoção, naquela loja que tanto anuncia preços bons. Ele nunca deu a mínima atenção para o que diziam, mas sabia que eles existiam. E isso já foi o bastante.
Um dia, passando em frente à loja, reparou o quão bonita era a atendente. Entrou.
Na loja.

Lembrava-se com um sorriso idiótico no rosto.
Entrou na loja, pediu ajuda para a moça. Disse que precisaria de roupas de cama - acentuando um tanto quanto inutilmente esta última palavra. A atendente, mais interessadamente possível, dirigiu-o a uma segunda atendente.

- Olá - eu disse.
- Em que posso ajudá-lo? - perguntou a atendente segunda.
Sua cara deixava na cara que era novata:
estava sorrindo. O que não ajudava.
Seu rosto era, de longe, bonito. No máximo charmoso.
- Senhor, em que posso ajudá-lo? - tirando o sorriso do rosto dela e quase colocando-o no meu.
- Ah, sim! - eu estava achando quase divertido - preciso de roupas de cama. -sendo o mais direto possível.
- Venha comigo, por favor.
Seu andar era bonito, para uma máquina.
Escolhi sem dar atenção e voltei para casa, agradecendo por poder dormir em lençóis novos, limpos, e sem cheiro ou sensação de humidade.

Não conseguia dormir de jeito nenhum.
Quem sabe era culpa do excesso de trabalho, quem sabe era culpa da mulher em que estava ao meu lado?
Logo descartei a segunda opção, a noite fora boa. Eu deveria estar descansando como um Rei agora.

Rei estava verdadeiramente cansado. A manhã, tarde, noite, o mês... quem sabe tudo aquilo. Fazia tempo.
E aquele muleque, nunca mais o vira no parque. Ouviu falar que tinha sofrido um acidente, quase morrido. Quem sabe era exageiro. Quem sabe, não.
Só sabe que o acidente assustou todo o bairro. Enojou o bairro.
Pelo o que ouvira falar, o cara disparou tão rápido que mal pegaram a placa.
Rei sentiu um arrepio, quem sabe até um mal estar.
Levantou-se e foi ao banheiro; lavou seu rosto, vestiu-se com sua samba canção e cantarolou qualquer coisa. Em breve a cidade também estaria acordando.
Foi aprontar seu café-da-manhã. O seu, e o dela.