quarta-feira, 2 de julho de 2008

Biografia da noite-insônia

A noite teve a ousadia de estar tão escura quanto seus olhos. Seus olhos ousaram não descansar, estava concorrendo com a maldita hora.
E Rei estava terrivelmente transtornado com tal caso.

Olhos abertos, luzes apagadas, corpo suando de tensão e ansiedade. O sono não vinha, e seu nervosismo lhe fazia mais consciente. A chuva lá de fora, que deveria ajudar a acalmá-lo, mal fazia cócegas. Aliás, fazia-o pensar em coisas como:
-Será que essa chuva não vai parar?
Ou:
- Será que vai parar um dia?
Ou, ainda:
- O prédio vai destelhar! - lógico, isto deve ter sido lá pelas quatro da manhã, pois esqueceu-se que seu prédio, como tantos outros, ou quase todos, simplesmente não tinha telhas.

Os lençóis macios agradavam seus pés. Rei estava estressado, mas agradecia ao seu consumismo. Havia comprado todo o jogo de lençóis e etc's em uma ótima promoção, naquela loja que tanto anuncia preços bons. Ele nunca deu a mínima atenção para o que diziam, mas sabia que eles existiam. E isso já foi o bastante.
Um dia, passando em frente à loja, reparou o quão bonita era a atendente. Entrou.
Na loja.

Lembrava-se com um sorriso idiótico no rosto.
Entrou na loja, pediu ajuda para a moça. Disse que precisaria de roupas de cama - acentuando um tanto quanto inutilmente esta última palavra. A atendente, mais interessadamente possível, dirigiu-o a uma segunda atendente.

- Olá - eu disse.
- Em que posso ajudá-lo? - perguntou a atendente segunda.
Sua cara deixava na cara que era novata:
estava sorrindo. O que não ajudava.
Seu rosto era, de longe, bonito. No máximo charmoso.
- Senhor, em que posso ajudá-lo? - tirando o sorriso do rosto dela e quase colocando-o no meu.
- Ah, sim! - eu estava achando quase divertido - preciso de roupas de cama. -sendo o mais direto possível.
- Venha comigo, por favor.
Seu andar era bonito, para uma máquina.
Escolhi sem dar atenção e voltei para casa, agradecendo por poder dormir em lençóis novos, limpos, e sem cheiro ou sensação de humidade.

Não conseguia dormir de jeito nenhum.
Quem sabe era culpa do excesso de trabalho, quem sabe era culpa da mulher em que estava ao meu lado?
Logo descartei a segunda opção, a noite fora boa. Eu deveria estar descansando como um Rei agora.

Rei estava verdadeiramente cansado. A manhã, tarde, noite, o mês... quem sabe tudo aquilo. Fazia tempo.
E aquele muleque, nunca mais o vira no parque. Ouviu falar que tinha sofrido um acidente, quase morrido. Quem sabe era exageiro. Quem sabe, não.
Só sabe que o acidente assustou todo o bairro. Enojou o bairro.
Pelo o que ouvira falar, o cara disparou tão rápido que mal pegaram a placa.
Rei sentiu um arrepio, quem sabe até um mal estar.
Levantou-se e foi ao banheiro; lavou seu rosto, vestiu-se com sua samba canção e cantarolou qualquer coisa. Em breve a cidade também estaria acordando.
Foi aprontar seu café-da-manhã. O seu, e o dela.

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