sábado, 19 de dezembro de 2009

A chuva sempre vai cair quando tiver que cair. O mar sempre vai subir quando for a época. O Sol vai se pôr sim ou sim, e a Lua vai nascer ou minguar nos dias previstos, corretamente. A nuvem vai nublar, a água fervente, antes, vai chiar; o calor vai queimar tanto quanto o gelo, o espelho vai refletir tanto quanto um desconhecido vai lhe reconhecer. Algum parente vai ter que te amar e qualquer cachorro que você alimentar, também.

Você algum dia vai tropeçar e, em alguns desses tropeços, algum dia você vai cair e, em algumas dessas quedas, algumas pessoas podem vir a te ajudar e, em alguma dessas ajudas, você vai reparar que obviedades como o cotidiano insistente das horas e relógios despertando para o novo dia podem te surpreender quando parar para pensar em quão imenso é a metódica da vida.

Até pode-se tentar fugir das certezas, mas inevitável já tem em seu significado todo o peso do que poderia passar horas falando e pouco explicando.
A chuva vai cair, o mar vai subir, o Sol vai se pôr, a Lua vai nascer.

E é basicamente tudo que eu sei.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Só tenho pensado ultimamente que está acabando.
E depois... depois é o tempo.
Não é mais leve, o tempo. É necessidade de algo que me leve, leve;
alto, longe, longe, lento. Onde pouco importa onde se está,
se está,
por onde se há de estar, então, depois de voltar.
Só tenho me perguntado como alçar vôo com tanto peso nos ombros.
Talvez eu viaje para terras onde anões dinamitem minhas culpas. Ou seria eu mesmo quem deveria?
Talvez eu tenha que parar de depender só de mim. Talvez eu tenha que parar de confiar só.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Engraçado isso, mas de repente minha consciência ficou muda.

Falou aos cotovelos pelo dia afora, conversou com o mundo e até com as pedrinhas. Agora, aqui, sozinhos eu e ela, nada. Nada. Absolutamente nada. Até acho que ela foi embora, por agora.

Logo quando precisava desse lero-lero, sabe?

Acho que a consciência está é de mau comigo. Falou com todos, todos que podia e, agora, sozinha comigo, nada. Absolutamente nada.

Pudera, está mais é certa. Dei canseira na coitada e nem esperei ouvir de volta tudo que ela tinha pra me dizer. Tudo que eu insisti em não ouvir e deixar para depois.

Taí. Muda. Nada, absolutamente nada. Parece que nunca existiu - tenta, ao menos.

Só espero que não dure.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Se a loucura me toma, me abraço e me cego. Sigo em frente na loucura, somente em três, quatro, ou sozinho.
Quando a loucura me toma, aí me revelo a mesma fotografia gasta; nova ao desacostume da massa.
Vem a loucura e me embriago em desejo, e me largo do corpo. E me lanço às espadas. E cravo no peito desde a primeira flecha, à última.
Aí, como todos, a loucura cansa e vai descansar num canto do meu quarto. Me sento na cama, me ouço.
Percebo que nada mudou; continuo o mesmo e me levo na mesma estrada.

Tem dias que de tão pequeno nem me encontro; já n'outros sou tão maior que minha estatura que nem me caibo, aí que sufoco.
Uma pena estarmos presos a só um corpo.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Desvira, fumaça. Desvira.


Desvira, fumaça. Desvira.
Upload feito originalmente por Amnesiac.
Muito do que se sabe, pouco se soube;
por toda aquela estrada só se ouvem dois berros:
ao Norte da criança que chora
ao Sul do senhor que dorme.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

PhotonGrafia


Uma Biografia Real

Moço, cê faz foto três por quatro, moço? Ah, faz? Vou querer duas então, moço. Ah, vem oito? Mas não precisa tantas. É, se vem oito pelo mesmo preço, vou fazer.

Moço, ando n’uma tristeza. Minha filha morreu, mais o marido. A quanto tempo? Vai fazer quatro anos, moço. Quatro anos. Ninguém mais chora, menos eu. É uma tristeza, uma tristeza. Imagino, moço, imagino.

- Disse-lhe que nem sabia o que dizer; uma verdade, nada mais.

Moço, morreram na hora, na horinha. Acidente. Ninguém sabe muito bem como foi. Quatro anos que ando nessa tristeza, nessa tristeza. Tinha acabado de se mudar, ela mais o marido, p’ra uma casinha deles, ela tinha a recém se formado em pedagogia; e morreu, moço. Ando com o olho seco.

- A esperei ajeitar os cabelos extremamente grisalhos e cansados – como suas mãos, sua expressão. Pedi que se ajeitasse na cadeira com as costas retas e sua pose imponente me surpreendeu imensamente. Rosto rijo, corpo duro; uma mulher pedra pelo tempo. Na foto não mais que esta mesma não somente impressão.

Moço, fica pronta quando? Ah, agora? Vou esperar então.

Mas moço cê não vai acreditar, acredita que to com enfisema pulmonar? E eu nunca fumei! Meu marido que fuma desde os dez anos e eu não sabia, mas o médico disse que ficar do lado é como fumar junto! E ele, nada. Me canso para qualquer coisa e antes eu quem fazia tudo; capinava, limpava, trabalhava numa escolinha limpando sala e quadro-negro. Não sabia que fazia mal aquilo lá. Dezessete anos com giz na cara; chegava em casa com o rosto e o cabelo brancos do giz. Mas eu gostava. Agora tenho medo de andar sozinha na rua, vai que me dá um sufoco!

O médico me mandou tomar uma pílula se sentir dor, e passa sim. Vai saber, agora ainda mais com o verão. Tive que fazer uma consulta de duzentos reais, me deixaram fazer em duas vezes. Cloroplas-alguma coisa colorida. Ah! Sabe qual é, então, esse mesmo! É, é, é um nome difícil de falar mesmo, eu também não sei, moço.

Um absurdo, eu faço tudo pelo postinho e tive que pagar. Tudo de consulta no postinho. Até to esperando uma consulta a mais de ano e meio e já to vendo que vai acabar esse e ainda nada. Tive que ir fazer uma consulta para ver se era enfisema mesmo, e era. Soprei e deu positivo. Às vezes tenho uma dor, uma dor de querer ficar o dia na cama deitada. Um cansaço. Mas tenho que cozinhar, tenho mais quatro filhos para cuidar; eu quero viver. Mas com a morte da minha filha mais velha, ai. Ela tinha recém se formado, moço.

Eu sei, eu sei.

Não é de ficar indignada? Não é um desaforo eu passar por tudo isso? Mas se Deus quis assim... tem que aceitar. É não? Diz meu marido que vai morrer mesmo, por isso não para com a fumaça toda; quero ver quando ficar entrevado em uma cama. E o moço aqui, cuida da saúde, cuida! É o que a gente mais tem de precioso, moço. Obrigada pelas fotos, qual teu nome mesmo? Bonito nome. O meu? Avaní. O prazer é meu, meu filho. Fica com Deus.

- Apenas senti sua tristeza durante a conversa e a essa senhora foi me comover logo com um sorriso de despedida. O único. Saiu pela porta de vidro sorrindo.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Entre-Linhas, parte 8

Estou com um pequeno problema de justaposição de idéias;
não sei se espero estar errado ou se o errado é esperar.

sábado, 17 de outubro de 2009

Entre-linhas

Precisei enlouquecer para olhar para trás e ver como nunca antes havia sido realmente normal.
Aí eu sonhei que caía, e caía, e caía; não parei de cair até acordar e precisar levantar e ver como a gravidade é algo realmente engraçada quando não se quer fingir sentir o peso de uma nova manhã.


sexta-feira, 25 de setembro de 2009

PhotonGrafia, parte 3 - Cinema Cotidiano


Cinema Cotidiano
Upload feito originalmente por Amnesiac.

Ontem, no ônibus, estava pensando em algumas coisas. No meu sono, na minha fome, no chopp que tinha tomado com minha avó àquela tarde, na minha pressa, na roupa molhada da chuva, nas contas de fim de mês, na fila do cão que estava o trânsito. Na minha pressa.
Em quanto o tempo passa. Em quanto isso me preocupa, em como isso é tema do cotidiano.
Em quanto as chances passam; Enquanto tudo não deveria passar de acontecimento - arrependido ou bem sucedido.
Aí, quando ví, já estava em casa. E a família já estava chegando do trabalho ou da aula. E traziam comidas, e compramos bebidas, e conversamos e tudo que Na Pressa se resumia, morreu.
Esvaiu; é a palavra. É.
Dentre as sinceridades e brincadeiras de ontem à noite, nada mais deveria interferir.
- Esvaiu.
Durante hoje me peguei pensando o quão inútil é estratificar o tempo em passado, presente, futuro.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Biografia de ex-par.

Beijo beijava boca dizia murmúrios ao ouvido ouvia suspiros tocando entradas carnes ou vontades por prazeres - interesses - sentidos esperados.
Boca mordia boca, mordia boca, mordia forte, beijava boca, beijava pele, beijava lábio, mordia forte; mantinha ambos na cama, na Terra.
Chegando ao céu puxei-te ao quente do teu sangue. Mordia forte, desculpe. Beijei para sarar.
Assistí filete ordinário teimar em não escorregar por teu rosto rubro.
Olhava-me também, quem sabe para meus dentes; talvez. Nem importou-te depois dos Ah's a mais.
Ficamo-nos vendo corpo respirando, hora tardiamente acompanhando avião que em horas traria-nos tua partida.
Sei que pensamos juntos em tuas malas pouco ajeitadas, em nossos dias, até este, pouco arrumados. Pensamos juntos alguns "esperei tanto por isso";
"o dia raiou, enfim!".
- Em fim acabamos nós. Pensei junto contigo.
- Como esperávamos. Pensaste junto comigo.
- Como temíamos...
- Como quando nos amávamos...
- Amávamos, sim.
- Amo; mas agora a mim, mais. Pensamos juntos.

Foi eu quem adormeceu primeiro.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Uma Biografia dela.

A mim já não dói a distância.
Dói a esperança.

Todos sentem falta de alguma coisa, alguns até a cantam. Eu canto o pedaçao de papel a 6 dias deixado na porta da minha casa, da nossa casa.
Foi tanto ódio que faxinei cada canto que ainda pudesse haver o seu cheiro ou qualquer fio de teu cabelo.
Hoje... hoje nem sei. Hoje... só espero que não seja como amanhã.
Hoje abri a porta para ir até o correio; esperava poder dar uma resposta ao seu antigo endereço. Uma única resposta, qualquer coisa. Ví como seria estupidez a minha, tendo em vista nossas conversas sobre o quanto odiava o lugar em que morava.
Hoje abri a porta para entrar em casa e reparei no tamanho de minha esperança em ver você sentado no sofá. E olhando pra mim, e sorrindo me dizendo Olá.

A mim já não dói a distância, ou seja lá onde você está com a cabeça.
Dói é a esperança de ver você voltar e perguntar se é verdade.

Biografia de um recado na porta.

Manda teu corpo não deixar o peso da tua beleza estragar teu jingado rebolado. Desdiz o oposto do que dizes por aí para mim. Dizem do corpo. Digo da tua dança.
E que belas garras são teus olhos. E que belas mastigadas dão teu sorriso em minha alma.

Mas não posso mentir. Quando saí não imaginei ficar estancado dois anos no mesmo lugar, e não vou deixar acontecer o mesmo de novo. Não posso.

Com amor e pesar,
Maestro.

sábado, 19 de setembro de 2009

Biografia de todo fim, inicio.

Quando fiquei sabendo não pude negar a volta. Não pude conter pneus de carro em asfalto. Corrí como Canastra correria por um Rei morto.
O filho da puta conseguiu o que queria. Por mais que negasse, consegui chegar intacto na Cidade-Grande-Grande-Cidade de todos dias cinzas, com todos seus enormes prédios cinzas em meio a tantos rostos imutavelmente pálidos.
Entre o segundo dia de sua morte, em que fiquei sabendo, aos dois dias de viagem, tudo que tinha para acontecer já havia acontecido. Encontrei apenas com um singelo epitáfio, dentre um mar com tantas pessoas que Canastra não suportava olhar nos olhos. Não havia chorado ainda.
Ainda.
Vê-lo em pedra, calado.
Vê-lo assim. Doeu mais pelo seu meio que pelo seu fim. Entendia Canastra como Maestro não conseguiria entender. Entendia seu orgulho como ninguém, e chorei.
Foi enterrado às pressas por pessoas que pela pressa da vida não interferia o sangue.
Não levei flores, tampouco colocaram alguma e, como sempre, chovia fino.
Pode parecer loucura mas, não sei dizer, apenas aqui chovia em dança e, esta dança principalmente, não era fúnebre como a de todos os dias. Era dança de música do momento de rádio do carro em estacionamento.
Molhei novamente os ossos antes de ir ao apartamento de Canastra. Assim como me avisaram de seu enterro, seus familiares também cederam o lugar a mim e ao Maestro - este que não conseguiram localizar, após insistente única tentativa.
Voltei e encontrei sua vida.
Voltei e me encontrei com uma culpa imensa. Deparei com saudades.

Última Biografia de Canastra

Nessa noite nem os cachorros encorajaram-se a latir; tampouco eu ousei olhar para baixo. Não arrisquei saber no que estava pisando.
Apenas um gato me fixou o olhar, ainda que escondido na sombra de um poste. Olhos brilhavam em amarelo - curiosamente a mesma cor do pijama escondido por jaqueta verde.
Enquanto ia me polpei das preocupações que teria na volta; ao sair da loja de conveniências percebí dois moleques me encarando. Virei tantas vezes quanto me sentí seguro em fazê-lo, mais parecendo puta atenta a carros que não passavam, a pessoas que descansavam caladas em suas camas quentes - abstendo-se do céu vermelho-nublado pintado por luzes artificiais das duas e trinta e sete da manhã.
Falara com apenas duas pessoas durante.
O atendente da Am/Pm na compra de uns cigarros e com um cara que me pedira um, já na volta.
Estendeu a mão agradecendo. Apertei-a.
- Meu nome é Victor, e o teu?
Apenas respondí.
- Indo ou vindo de alguma festa?
Respondí que viera apenas comprar alguns cigarros, já estava voltando para meu apartamento. Nada muito longo.
Conseguí seguir em frente. Gente boa o cara, apesar dos dois metros de altura e minha calma perante seu olhar convidativo.

Não é a noite mais perigosa, eu que havia perdido o jeito.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Biografia de um Esboço

Me disse um Senhor:
- Encontrei uma garrafa de vidro n'uma vez, na praia. Tinha um papel todo amassado, em branco. Lembrei das histórias de piratas que meu pai contava e comecei a chorar.

Demorei a entender o porquê.
Mas conseguiria você imaginar tamanha solidão contida em um recado em branco, enviada a lugar nenhum?

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Biografia de um Fim, parte 2

A queda livre.
Adrenalina-
-Insegurança
Prazer em não saber a quanto se está do chão.
A aceleração
do coração
do Salto
do corpo quebrando o ar
do desconhecido aproximando-se.
O fim da Queda Livre está chegando.
O fim está?
O que está se aproximando além d'O fim da Queda Livre?
Corta as marcas do rosto.
Transpassa o Bom-Senso coletivo.
Faz-me volta à infância.

Se vejo toda minha vida diante meus olhos antes do fim,
quem garante que não estava somente revendo o que já se passou?

A biografia de um Fim, parte 1

A vida estava estranha.
Este dia marcava exatos dois anos de despedidas daqueles únicos dois que tive coragem em chamar de amigos.
Os últimos dias estavam de tirar energias de pedras. Nunca imaginei que um dia me sentiria tão cansado. Não havia dormido a última noite nas rememórias de tantas coisas passadas.
Meu escape foi o trabalho. E trabalhei como alguém, não como Canastra. Do começo do dia, ao início da noite que tanto me chamava às ruas.
Andei ainda vestido de Trabalho por entre pessoas igualmente exaustas do dia, dos restos que envolviam sua vida. Andei mais do que devia, pois desistí de pegar a usual locomoção de todos.
Sentia falta da Cidade-Grande-Grande-Cidade. Andei por entre carros, e luzes, e ruas, e prédios, e tetos; ao céu, quem sabe. Não ousei olhar para os lados, para o chão, e muito menos para o céu. Ele não merecia ver o que estava andando sobre a sua terra de piso de pedras e asfaltos.
Peguei o celular para ouvir alguma trilha sonora do dia e, como sempre, segurei-o nas mãos. Os fios estavam em mal contato, por isso. Por vezes irritado, por vezes clemente; tudo dependente do que me cantavam.
Ao cruzar da rua um estranho me pegou pelo braço. Já havia sido assaltado quantas e quantas mais vezes pode-se imaginar, sabia muito bem como agir.
Me mandou passar o celular, ficar quietinho. Disse o estranho que estava armado, e provavelmente o estava. Senti algo cutucando minha coluna e preferí não duvidar. Preferí acreditar que aquilo estava acontecendo.
Parei no meio da passagem fechada aos carros, entre as duas ruas que deveria ou estar esperando ou chegando. Pessoas iam, vinham, sofriam como todos. Algumas riam. Algumas iam sozinhas, outras preferiam livrar-se do peso da solidão.
Parei, virei e ví o rosto suado, coberto por capuz. A luz estava ao meu favor e pude ver sua expressão de Aqui e Agora. Sua veia do pescoço arraigada por nervosismo e adrenalina. Meu coração disparado. Nunca, a tanto tempo, me sentí tão vivo.
Me chingou de alguma coisa e mandou eu me apressar. A situação estava ficando estranha.
Mandou eu me apressar.
Mandou eu me apressar, pois não estava de brincadeira.
Mandou eu me apressar, cutucou com força agora minha costela. Ele sabia como disfarçar, era bom nisso. Experiente, pode-se dizer.
Tudo que conseguí dizer foi apenas um susurro: "atira, mas corre muito, muito rápido, filho da puta". Ele deveria aprender que existem pessoas que não tem o que perder.
Se surpreendeu. Mandou eu me apressar, e não disse mais nada.

A vida é estranha.
Sempre tive muitas paixões mais fortes do que poderia explicar. Sempre intensas e vivas, mas nunca me apaixonei tanto por alguém quanto tinha paixão pela Vida. Sentia um tesão imenso em querer saber o que aconteceria quando eu acordasse no próximo dia. Um amor imenso que reviví alí.
É uma paixão que se transformou em vingança.
Sentí tesão em saber o que aconteceria alí.
Disse, susurrando;
atira, mas corre muito, muito rápido, filho da puta.
Engraçado, tenho a sensação de que, em meu nome, esse filho da mãe nunca correu tanto na vida.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

domingo, 26 de abril de 2009

entre-linhas por aí

morrer na praia
morre o peixe. Canastra que é canastra não morre, dorme de porre; renasce a cada dor, troca de pele. Esquece o que convir, relembra sem existir. 
Inventa. 
Sobrevive na
selva de
pedra.
Cidade-Grande-Grande-Cidade, nada como um dia após o outro depois de outros tantos como os que já ví.



sábado, 25 de abril de 2009

Bio gra fia

O tempo passa e as palavras cada vez mais me faltam. Cada vez mais me aquieto com o que ja está.
Certo, errado...
apenas o é.

Apenas receio que o fim não esteja. 
Que não seja. 
Que não haja. 

Seja Rei, seja Canastra; quem sabe Maestro. 
O dia acaba para todos, 
então o dia nasce de novo.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Biografia cantada, parte 3

Linda
de pranto sutíl,
carregas o oposto do anil e de pompa cansada sorriu.

Linda,
além dos poucos versos que me restam
também trago calma gentil
de um ombro calado
pouco acostumado a lábios de seda
sem hora e certeza
sem dia sem alvorecer.

Não vais t'imbora assim tão depressa
a bela e a fera hão de formar um par ao fim.

Não vês que tudo é de repente?
Ganhar ou perder já não bastam
à mim.

Biografia cantada, parte 2

Prevejo o que se sente
Prevejo o que tu sentes
quando os olhos teus
encontram um horizonte só meu.
Enfim.

Ao par:
o mundo!
Mas o mundo há de encontrar
o par;
Enfim.

Biografia cantada, parte 1

Da lua que sobe ao céu
Do brilho que permeia o mel do mar
Da Beira-Mar

Das estrelas que estão ao chão
que correm no seu vai-e-vem
que correm até seu portão,
seu céu

Anuncia o fim do dia
Anuncia o calor do lar

terça-feira, 24 de março de 2009

O analista de expressões

O cotidiano me fez analfabeto.
A pressa
A pressa pela perfeição.

A perfeição
A perfeição que me apressa.
Me suga, me sufoca em abraço em "Bem-vindo ao novo dia". Mas e chega outro,
e outro. E outro, de novo.

De um frio que faz da gota, 
adaga.
A última gota não dói.
Rasga, mas não dói. Mata.
Mas morrer,
de novo,
não dói.

Não sou gato de sete vidas. Sou gente,
que como toda gente,
tem mil eu's ao mês. A cada dia, ao menos três.

O cotidiano me fez analfabeto;
e analista de expressões.

Entre-linhas, parte qualquer.

É tudo estranho 
aos olhos de um normal
ao mundo meu, tão normal
aos olhos estranhos meus

Junto pouco
para mostrar o
tanto que se aprende em tão pouca vida.


segunda-feira, 16 de março de 2009

Biografando um Passado Canastra, parte 1

No final das contas a maior guerra que podemos presenciar é esta: como esconder a sombra quando se quer vestí-la.

Muitas frases inteligentes alienam e emburrecem;
tudo faz sentido, tudo é verdade.



É como se eu quisesse ver as casas pegando fogo.
É como se eu quisesse ver as coisas desabando, incessantemente; como a chuva.
Uma chuva tão forte que nenhum incêndio possa secar.
Uma fogueira tão intensa da qual nem tantas tempestades consigam apagar.
Mas esqueço que não sou Filme. Meu estômago dói; os pés estão realmente molhados, e gelados; e eu, de um modo inquestionável - e desgraçado - me sinto culpado.
Nas casas existem crianças que eu poderia ter sido; homens que eu poderia ser um dia, quem sabe. Apenas as mulheres são felizes; elas eu ainda posso ter. Ainda posso estragá-las, como me estraguei. E, por conseguinte, as crianças e homens.
Os atores são eles. Passageiros. Dirigir, sim, cabe a mim. Passageiros são eles, como todos.

Eu não acredito em Deus. Só acredito em quem acredita em mim; e sei que, ao menos Ele, não seria Tolo o bastante para isso.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Biografia do Silêncio Futuro





















"shhh", ela me disse; silenciei como uma mucama. Um escravinho qualquer.
A vida me disse. 
A vida me disse "shhh...". Silenciei.
A vida me pôs nos eixos como ninguém.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Biografia de um passado Canastra

O passada de cada um é seu. Não por opção, sim por consequência - é claro. É claro que não há como escapar, é certo que não há como deixar o passado passar.
Nem um ano pode mudar, nem dez.


O passado faz sangrar ao fechar dos olhos. Em um piscar, pode curar. Me deixar sentar e pensar não é fato fácil. Deixar o paralelo entre ontem, ante-ontem e hoje rastrear o meu estado atual é impossível de definir. Nem sei por onde começo a pensar, para lembrar.
Simplesmente acontece;

Entre linhas S-ete

O sossego não trás apelo, só fragmenta.
Não sei se é comodismo ou felicidade
do cansaço do dia, do cansaço do gozo. Do cansaço do riso, ou do cansaço de si.
Quem disse que não dá trabalho rir não sabe. Se a culpa é tua,
a culpa é minha, se.
Do cansaço de se querer bem, sempre tão bem.
Bem-estar-bem, sempre estou aí! Para o que der e vier,
para o que der e convir! Bem que nada como sentir-se.
Sentir a sí, por inteiro. Sentir a tristeza como prêmio.
Ou algum encômodo, alguma irritação. Não sentir-se sorrindo,
não sou vendedor. Sou mim por inteiro,
algo aí, perdido no palheiro. Palheiro aos prantos
que o sossego não trás apelo. Só fragmenta eu,
me diminui a reles vendedor.
Pois não sou!
Sorriso Colgate vale dinheiro; pois meu bem, meu sorriso não vai valer meu bem.
Não é pranto, não é felicidade.
É sorriso,
sorriso de vendedor. Pois não vendo minha alma,
esta tal, que mal tenho. Pois não vendo minha carne,
pois não vendo satisfação. Tampouco felicidade.
Vendo uma triste idéia de felicidade contínua e imutável. Incansável. Aliás: venderia,
se.

Biografia S

Existe um longe abismo entre ser feliz e estar acomodado. Ser feliz é sorrir, estar acomodado é sorrir ainda assim; eu sei. Ser feliz é ver televisão e ser feliz, estar acomodado é ver televisão e... é isso aí.
Ser feliz é enlouquecer, pegar o seu carro, encher o tanque, encher o porta-malas, atirar-se em algum lugar e pronto! Ser feliz!
Estar acomodado é fazer tudo isso e pensar - que merda, tem muito sol. Ou que está chovendo. Ou que está nublado. Ou que anoiteceu.
Ser
e
Estar. Ser, estar. Estar, ser. Serestar.

Deixei a janela aberta para entrar muito, muito vento. Muito vento mesmo! Queria tirar o cheiro da cidade grande. O som das buzinas estavam impregnadas nos bancos de couro. A fumaça negra impregnada nos espelhos. Encrostada no espelho.
Apesar das teorias, nunca pus em prática a idéia de que eu realmente poderia estar levando uma vida meramente satisfatória. Aquela conectividade com o seu Eu, aquela sensação de "epa, tem algo errado aqui". Não é querer reclamar do excesso de momentos tranquilos. É só o saber que tranquilidade não é felicidade.
Não sabia o que Canastra e Maestro pensariam do seu blackout, e tampouco lhe preocupava agora. Havia saído da cidade à horas, apenas.
Pensou em muitos lugares a que visitar, muitas lembraças a resgatar. Uma vida a se lembrar, a se voltar para. Havia para onde voltar.
Queria apenas esquecer as novidades e viajar de volta para alguma época feliz de sua vida. E depois voltar para o trabalho, suas férias não seriam para sempre. À partir de agora Rei teria apenas 713 horas e 23 minutos para a volta para sua real casa.
A cidade grande, grande cidade pequena, onde todos se encontravam e poucos se viam ainda residia ao sul, ainda tinha rastros de propagandas, ainda possuía a sua marca.
- Tenho de mandar um cartão aos dois - pensou. E seguiu,

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Biografando Saudades

Não sabia quantas escalas teria de passar até chegar à Saudades. Peguei o pior ticket, na esperança de enjoar de longas viagens e não pretender voltar. E acabei pegando gosto pela poltrona ruim. A companhia era boa.
A cada algumas paradas o motorista anunciava o local e o destino. Nunca soube por que meios chegar a algum lugar, ao meu destino. Destino sempre visava algum sinônimo para "incerto". Nunca estive tão calmo em relação às desconectividades da vida e, por mais que negasse, a lenda de na morte as estrelas serem nosso destino nunca me pareceu tão certa.
Uma estrela adormecida não perde seu brilho, só muda de charme.

Penso que cruzei o país, mas a verdade é que uma viagem que provavelmente levaria algumas 12 horas, simplesmente virou mais que um dia. As estradas esburacadas, as várias cidades perspassadas.
Na noite do segundo dia chegamos. A rodoviária se fazia distante da pequena cidade. Estrada de chão, clima serrano. Fui obrigado a colocar um abrigo por cima da camiseta velha. Estela fez o mesmo, com o rosto inchado do sono. Encantadora, como sempre.
- Nem acredito que chegamos - me disse, trazendo um bocejo consigo. Espriguiçou-se levantando os braços, alongando a coluna e mostrando parte da barriga menina.
- Não posso reclamar - e rímos.
Deixamos os poucos sobreviventes deste quase translado sair na frente, enquanto organizávamos a bagunça. Coberta e livro na mochila, comidas pela metade em sacolas pequenas. Saí me sentido turísta, claro. E Estela, como todas as mulheres, de mala e cuia.
Via-se o céu do Box 03, onde o ônibus estacionara. Limpo, gelado. Nossos olhos num abre e fecha insistente.
- Sabe onde vai dormir?
- Não faço idéia. Não sabia que chegaríamos à noite.
- Tudo bem, tenho uma casinha alugada. Pode ir para lá. De um modo ou de outro é sempre bom ter mais alguém, caso precise matar alguma barata ou algum tempo.
- Não vou fazer que não quero.
- Nem se dê ao trabalho!
Seguindo a estrada vi a cidade um pouco abaixo. Nem havia reparado o vale no nome da cidade.
- Vale Saudades, cá estamos. - ela parou, colocou a mala no gramado do canto de estrada - Nem sei, passo poucas semanas longe e me parecem meses.
Nem me atreví a renegar. Fiz o mesmo.
- É bonito mesmo.
A estradinha levava a um pequeno portal que levava o nome do lugar. Por algum motivo estranho a estrada grande não passava por alí, mas a vista bela conteve meus raciocínios. Poucas luzes acesas, barulho algum. 11 horas da noite e já não havia movimento sequer em botecos.
Fora de qualquer eixo, fora de qualquer olho de algum qualquer. Vale Saudades não me saudou com alegria, mas com paz. A tal paz merecida.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Biografia do encontro

Me parou uma mulher a gesticular com a boca. Fiz sinal que não ouvia e tirei os fones do ouvido.
- Oi, esse passa pelo Parque Central?
Sorri.
- Não faço idéia!
Me sorriu de volta e sentou ao lado. Nem tinha reparado o senhor do meu lado sair. Não sabia que de uma cidade grande a outra qualquer demoraria tanto.
- Então quer dizer que teremos um forasteiro naquela cidadela... - incrível, mas os óculos escuros não mascararam sua boa vontade em me mostrar algum lugar para pernoitar.
- Só sei que paro no Terminal das Saudades.
O ônibus chacoalhava com as estradas mal cuidadas do interior. Das três horas da tarde que saí, não se via nem o sol do dia. Já se via o amanhecer de um novo.

E já se encontrava o meio-dia. Estela, que por R não deixava de ser estrela, me manteve com a cabeça para o futuro. Nem lembrei e reparei onde estava, para onde ia. Me contou seus planos com sotaque algum. Não era menina de lá, percebia-se isto de longe.
Ao pararmos para o almoço fez prato urbano. Muita salada, sem carne, um arrozinho e alguma coisa para deixar bonito. O de sempre, como sempre.
- Quando chegarmos vou te mostrar o parque, é muito bonito. Entardecer nem esfria, muitas árvores!
- Onde eu morava tinha um imenso, morava perto.
- Pois esse você também vai gostar!
Me fazia parar de falar sobre os passos dados. O que muita gente tentara por anos, conseguiu em poucas horas.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Biografia do Nexo

E o nexo mudou de msn, apagou o orkut; trocou de telefone. Era amigo de infância, mas como qualquer outro irmão sem sangue, perdeu-se pelo caminho.
Foi uma daquelas viagens sem volta. Foi, não voltou - nem cartão postal mandou, eu dizia. Nem lembro exatamente quando, só percebo quando sinto falta. Imagino seu destino, e a idéia dele sequer querer lembrar de mim não me mata, não me instiga, não entristece. Tampouco me conforta.
A gente cresce e deixa para trás o que nos cansa, o que nos ama, o que queremos...
e esta é apenas mais uma perda ao longo de uma estrada Free Way, mais rápida que os carros e mais perigosa que os motoristas. Que, ao menos, dependendo do horário - claro - possui aquele sol das cinco, ou das seis. Ou das sete, em horário de verão.
Será que o nexo volta ou vou ter de aprender a conviver sem?