sábado, 19 de setembro de 2009

Biografia de todo fim, inicio.

Quando fiquei sabendo não pude negar a volta. Não pude conter pneus de carro em asfalto. Corrí como Canastra correria por um Rei morto.
O filho da puta conseguiu o que queria. Por mais que negasse, consegui chegar intacto na Cidade-Grande-Grande-Cidade de todos dias cinzas, com todos seus enormes prédios cinzas em meio a tantos rostos imutavelmente pálidos.
Entre o segundo dia de sua morte, em que fiquei sabendo, aos dois dias de viagem, tudo que tinha para acontecer já havia acontecido. Encontrei apenas com um singelo epitáfio, dentre um mar com tantas pessoas que Canastra não suportava olhar nos olhos. Não havia chorado ainda.
Ainda.
Vê-lo em pedra, calado.
Vê-lo assim. Doeu mais pelo seu meio que pelo seu fim. Entendia Canastra como Maestro não conseguiria entender. Entendia seu orgulho como ninguém, e chorei.
Foi enterrado às pressas por pessoas que pela pressa da vida não interferia o sangue.
Não levei flores, tampouco colocaram alguma e, como sempre, chovia fino.
Pode parecer loucura mas, não sei dizer, apenas aqui chovia em dança e, esta dança principalmente, não era fúnebre como a de todos os dias. Era dança de música do momento de rádio do carro em estacionamento.
Molhei novamente os ossos antes de ir ao apartamento de Canastra. Assim como me avisaram de seu enterro, seus familiares também cederam o lugar a mim e ao Maestro - este que não conseguiram localizar, após insistente única tentativa.
Voltei e encontrei sua vida.
Voltei e me encontrei com uma culpa imensa. Deparei com saudades.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente