Você lembra de mim?
Eu sou aquela garota que você conheceu naquela sua
viagem. Que você atou os pés, as mãos, e
deixou apenas um bilhete dizendo que ia embora.
Eu acho que já nem sei mais direito como é seu rosto.
Lembro dos olhos, e um pouco do formato do rosto. Mas você, lembra?
Acho que já nem és mais quem eras. Tenho certeza disso. E
não que eu espere isso, mas era o que você queria, então eu só espero que
tenhas conseguido.
Não sei se eu deveria estar endereçando para a tua casa
ou se para minha própria.
Sabe,
entendi agora.
Entendi tudo.
Você sabe,
desde aquele dia tenho sentido falta de algo. Algo que não
sabia realmente o que era; estava olhando para um cisne em um lago, ou um pato,
não consegui distinguir muito. O lago você conhece, é aquele que nós dizíamos ir
um dia. Pois bem, demorou: mas fui eu sozinha.
Bem,
estava eu ali sentada e mirando seu dormir em pé, com sua
cabeça caída em suas costas, e
logo abaixo seu reflexo. Não lembro ao certo porquê, mas
ali entendi tudo.
Tudo.
Você sabe,
eu tenho sentido algo, algo muito estranho. Eu pensava
que ainda era por ti, por tua partida; e claro, no começo era, mas aí comecei a
viver um belo dia. Mas ainda assim eu sentia aquela coisa estranha, aquela
falta. Claro, eu sentia tua falta ainda, mas era diferente.
O que eu tinha por ti era algo que nunca imaginei pensar
sobre alguém. Ela me doeu, mas ela me fez ser o que eu queria ser, entende? Foi
ela minha gasolina por tanto tempo.
Aí entendi,
eu não estava sentindo sua falta,
eu estava sentindo falta de sentir a sua falta. Tive
tanto medo de nunca mais ter aquilo para mim, que me agarrei na saudades não da
tua presença, mas do que eu sentia por tua presença. Entende?
Eu sei que eu entendi. Entendi tudo;
Agora está mais fácil.
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