domingo, 25 de setembro de 2011

Biografia do Amor


Não julgarás uma pessoa que ama jamais!
Não julgue seus tentares atentos às suas
- suas, não dela -
necessidades.
Não julgues uma pessoa que ama,
pois quem ama,
ama,
e nada muito além disto.
A morte, já tão bem recontada por iras,
quando atem-se ao ardor da alma inquieta pelo sentir demasiado da paixão, torna-se mais perigo que a loucura da raiva.
Por isso não há julgamento coeso para quem diz o que diz por querer dizer tudo aquilo que disse por amar tudo aquilo que falou; ainda que ao reverso.
Por isso,
não a julgues, meu caro. Terias que aprender primeiro a julgar a ti mesmo, e eu sei, meu amigo, o quão difícil é saber saber de seu próprio espírito.

- À'mor'te dou tudo;
casa,
comida,
roupa lavada.
E bem sabes que já tens,
não apenas um pedaço,
uma sociedade de direito majoritário de minha alma. - ela dizia.
- Mas não;
não pedi! - ele respondia.

Ela bem sabia os números exatos da paixão. Eis que ele não. Eis que ele tampouco sabia despistar o amor, assim como pouco sabia do que queria. Ele lhe dizia:

- À'mor'te dei tudo;
minhas chaves,
minhas gavetas,
minhas cobertas.
Dei-te também uma bela parte de minha cama,
onde podes todo dia chegar com minhas chaves,
colocar teu pijama que te espera em alguma de minhas gavetas,
deitar-te e cobrir-te com uma bela parcela de minhas cobertas. - ele explicava.
- Mas não;
não foi isso que pedi! - ela respondia.

Ele bem sabia da resposta que seguiria, breve e em breve de sua tão bem explanada descrição. Ela, então, o enchia de carinhos.

- À'mor'te dou tudo;
corpo,
alma,
e mais um pouco de meu corpo,
ainda quando estava eu cansada!
Ainda quando estava eu desesperada por apenas cobrir-me de teus braços!
- Mas não;
não pedi!

Ela bem sabia que não. Mas o que poderia ela lhe oferecer além de uma alma que não o interessava e um corpo que o satisfaria, ao menos? Ele lhe dizia:

- À'mor'te dei tudo;
todas as chances,
todos apelos, correspondidos,
todos os pedidos chantageados!
Até mesmo adeus, te dei. E logo que lhe cumprimentava no dia seguinte, como se nada.

- Então,
à'mor'te dou adeus.

A ironia está contida na frieza e agilidade do amor.

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