quinta-feira, 1 de março de 2012

Por favor, silêncio.

posso escrever silêncio?
é um pouco
de tudo que me resta.
o outro pouco 
não sei definir.

posso descrever o silêncio?
não.
não posso.
não sou o bastante,
ainda,
para ser bom o bastante
para esclarecer
o que é,
de verdade verdadeira,
escuridão.

queria eu poder ficar em silêncio.

queria eu saber sobre o silêncio.

queria eu,
na verdade,
o sussurro no ouvido.

queria eu tantas coisas...
queria descobrir como não precisar mais ter esta necessidade que tenho agora de querer saber como descrever o silêncio. Já que isto me parece algo realmente complicado,
algo realmente impossível,
temo então querer o que não posso.
queria eu parar de bater com a cabeça na parede.

posso escrever silêncio?

shhh...

...

shhhhh...

e nada.
nada.

shhhhhhhhhhhhhhhhhh...!

mas não é o bastante.
as vozes são mais poderosas que o clarão.
elas dizem:
- Sim! Sim! Sim!
O erro está na ingenuidade de acreditar em tudo que me dizem. As vozes, por exemplo:
acredito nelas,
então,
depois,
nada de silêncio.
Nada de silêncio.
Nada.

Peço:
- Por favor: shh....

Nada.
Absolutamente nada.
Elas seguem:
- Sim! Sim! Sim!

Acontece que
não
não
não.
Há algo que segue em negar-me o óbvio.

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