domingo, 4 de maio de 2008

Sua Biografia.

Acabou pegando o costume.
Dia após dia encontrava-se com a cavalaria da fonte, da praça, do centro de sua cidade. Perto de sua casa e da padaria da esquina.
Na padaria pegava seu vinho.
Na fonte, deixava-o, após somente alguns goles.
Ele não sabia a quem estava enganando.
A chuva não sabia seus limites.

A chuva parou por dois dias, somente dois dias. Todos aproveitaram para lavar suas roupas sujas, para passear pelas cafeterias, pelas ruas. Para respirarem algum ar!
Ar este que já estava morno dentro de seus pombais, pobres de vontade.
Ele também. Além de não chegar molhado no seu trabalho e de aproveitar para frequentar um barzinho aberto com seus colegas - ou amigos, um dia descobriria - aproveitou os dias secos para não voltar encharcado dos seus passeios matinais.
Dois dias sem sol, de frio e nuvens. Mas sem chuvas. Dois dias que, após acabarem, após ele viver a vida que prometia começar após o termino da malditda chuva, terminaram. E veio, de novo, a chuva: forte ou fraca, pouco molhada ou ensopada, assim ou assada. Simplesmente veio.



6:00 da manhã. Ele levantou com seu despertador a corda turbinando seus ouvidos e despertando-o até a alma.
Nada nobre para um Rei.
Rei do Ócio, como o chamavam.A arte de não fazer nada.
E já estava terminando de por seus tênis de corrida. Rei decidira mudar! E foi, novamente, correndo até a fonte da praça do centro da cidade, sem antes deixar de parar na padaria para comprar o melhor dentre os piores vinhos. Sua cavalaria o esperava, mas não o muleque que pontualmente matava tempo até o sino de uma escola próxima soar.
Coisa da idade.
Achou estranho, mas não se encomodou. Tomou dois, três, quatro goles de seu vinho seco e despejou-o dentro da fonte.
Não para o santo, mas para sua cavalaria imperial.
Um dos cavalos, estaticamente reverenciando um pré-suposto apreciador, continuou a reverenciar seu Rei.
Não do mesmo modo como tantos outros, era diferente. O Rei sentia-se assim.
Sentia-se diferente dos outros que ali sentavam.
Sentia-se verdadeiramente reverenciado.
E ia, então, tomar seu banho para sentar no seu trono para que outros sentassem no seu divã para contarem seus problemas. Era tudo relativamente seu,
tudo que conhecia era basicamente seu,
menos seu eu.
Seu complexo de Rei teria ido mais longe do que sua arte de nada fazer pois seu reinado estendeu-se, seu re e conhecimento:
não. No seu divã, agora seu suor e sua chuva.


Seu apartamento, vazio.

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