segunda-feira, 2 de maio de 2011

Biografia de um Canastra pacato

Há dias em que me acomete o desejo da vida pacata de servidor público de salário certo ao começo de mês. Da vida mediana.
Vou ao bar para pensar no que tenho feito, no que tenho como vida e no primeiro gole de cerveja me descem idéias erradas sobre quem tenho sido.
Olho em volta, vejo as vidas de todos engravetados que passam com suas pastas de couro, nos seus rostos tão cansados quanto os da vida minha e vejo que não há problema algum em ater-se a isto:
a vida resumida em fins-de-semana e férias anuais.
Vejo em seus dedos anelares alianças de compromisso com uma família - esposa, dois filhos, sogros, cunhados e almoços de Domingo. Enquanto isso revejo meus Domingos de ressaca moral e rostos estranhos ao meu lado. Em meus trabalhos incertos. Em minhas festas sem prazer algum.
Sem prazer algum.
Termino a garrafa e peço outra.
Termino a garrafa e peço mais uma.
Converso meias palavras com a mesa do lado, mas só queria saber as horas.
A noite está agradável e penso para onde posso ir depois daqui. Talvez mais uma das festas de prazer nulo, de rostos estranhos ao amanhecer.
Pago a conta, pego minha sensatez e coloco fones de ouvido.
Brinco com meu bom-senso de mão em mão no caminho até a casa de festas mais próxima. Entro. Entro e as luzes estão belíssimas!

Acordo com uma dor fantástica no corpo. Parece-me que dancei como ninguém. Viro para o lado e quem é que está ali? Tem beleza no rosto e no corpo, ao menos. Descubro uma rouquidão em minha voz ao tentar acordar o corpo desmaiado que repousa uma de suas pernas em cima de uma das minhas.
Meu teto parece girar. Meu estômago acaba por girar junto. Meus lábios ensaiam um sorriso.
Me sinto de volta.

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