quinta-feira, 19 de maio de 2011

Da chuva

I

Há alguns meses atrás disse eu saber de que chuvas me abrigar. Pois bem, hoje digo também saber quais tempestades escolher para me banhar.
Passei todo esse tempo sem saber quais me trariam a leveza; pois bem, hoje as bem entendo. Sei da diferença entre passar frio e sentir o frio escorrendo pelos meus cabelos, incomodando meus olhos, doendo meus pulmões.
Antes eu simplesmente entendia o sofrimento e o abraçava como uma criança carente, vendo nele uma saída segura de toda loucura que a inconstante felicidade pode trazer. Hoje não a apenas entendo, mas a compreendo, e a abraço como homem - sabendo dos poréns e de seus também contratempos (que me foram uma perda valiosa de tempo).
Hoje passo frio apenas quando quero. Junto de talvez um vinho e uma boa conversa.

II

Não há nada mais libertador na vida do que desprender-se do que muitos tem medo. A chuva de ontem foi um belo exemplo.
É frio, é água; mas depois esquenta, seca. Simples.

III

Mas ainda tenho que entender que perder e vencer são antônimos somente na grafia de nossa Língua Portuguesa.
Uma vitória nunca vai suprir uma perda. A perda sempre continuará firme, talvez até do que os ganhos. O que se ganha talvez seja passageiro, um episódio. O que se perde sempre estará presente no sentido de saudade.
A perda é anacrônica. Não é do fim, nem do meio, nem do início. É de cada um.
Talvez seja meu orgulho, apenas. Mas ainda sustento esta idéia com afinco.
Você que ganhou a vida e mal reparou, já tentou experimentar perdê-la?

IV

Olá melancolia
desculpe
mas estou sem tempo até para ti.
É um certo desrespeito
e eu vejo isto
logo tu que me acompanhaste tanto tempo
me desprendo
como quem deixa de lado seu melhor amigo.
Sinto muito,
melancolia,
mas há momentos da vida
que só precisamos de tempo,
e eu vejo isto
por ter já sofrido deste mesmo despeito.
Encontraremo-nos novamente um dia,
vai ver que até mesmo amanhã,
a vida é disto:
de nunca saber o que se passa na cabeça das três irmãs.
Se elas teceram-nos um momento
hão de faltar-lhes criatividade e tecerem outro.
É uma questão de faltar de originalidade.

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