terça-feira, 10 de maio de 2011

Biografia do frio

Revejo anotações antigas junto de músicas antigas, junto de frios na barriga antigos, vestindo roupas antigas que me lembram perfumes antigos, que me lembram outros invernos; que me fazem pensar o quão mais frios eram os invernos antigos, mas o quão mais frio passo de acordo com os anos que se passam.
Das anotações antigas percebo uma coisa: apenas minha letra não mudou. O que penso hoje, ironicamente, era exatamente o que eu temia trilhar de raciocínio sobre a vida - que tem me parecido tão certo, tão coeso... tão... mais prático, mais fácil, mais...
Não escondo e nunca escondi a saudade que tenho de mim. De nós todos juntos também, claro. Das tardes de vida e noites de sono. Da necessidade da conquista de uns e de outros. Da saudade (e que saudades da saudade!). Mas a saudade de mim... esta sim; esta sim.

Está frio.
Preciso de mais cobertas;
meus sonhos já não me aquecem mais quanto,
nem meu pranto (que pranto?),
nem meus Santos.
Não ouço mais tuas rezas,
não ignoro mais as promessas que nunca disse
mostro cá de que que é feito a verdade:
Está frio. Pronto.
Está dita na sinceridade.
Está frio. Não estás sentindo?
- É inverno! - Dizes, em tom de defesa.
E Não, não desdigo.
Afinal,
a verdade não é de advogar casos perdidos.
Casos cegos.

Nenhum comentário: