quarta-feira, 4 de abril de 2012

Cartas póstumas de Canastra, capítulo 2, parte 1

Está quente.
Está muito quente.
Preciso trocar de ventilador, este velho já não aguenta. Ele para, ele não...
ele não ventila a dor.
Tenho que comprar um novo, pois céus...!
Está quente.

Minha testa está quente; medi minha temperatura e ela está normal, com 36°. Estou normal, o dia que está quente.
Tenho que tirar essa roupa. O colarinho...
culpa do colarinho.
Da gravata.
Da amarra.
Culpa das amarras.
Amarrado. Estou amarrado. Estou preso. Estou preso. Estou preso. Estou presidiário.
Corpo.
Corpo é pouco.
É prisão de ingênuos.
Está quente.

As paredes estão geladas. Estão geladas demais. O chão está gelado demais. Quem sabe mais ao fundo a temperatura mais amena não descansa meus olhos?
Uma caverna. Uma caverna escura, úmida, silenciosa. Espere...
estou andando na caverna.
Estou tropeçando. Está escuro.
Tropecei.
Tropecei em quê?
Tropecei em correntes. Correntes talvez me segurem aqui. É melhor colocar as correntes.
Sim,
mais seguro.
Está mais seguro com as correntes.

Silêncio.
Temperatura amena.
Olhos descansados.
Uma gravata e colarinho de melhor espécie.

A rotina é colarinho.

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