quarta-feira, 4 de abril de 2012

Cartas D'ócio, capítulo 2, parte 2

De um modo ou de outro, o objetivo sempre foi te salvar. Nada mais. Olhei pra ti e achei que eu precisava fazer isso, e fiz.
Acho que, de um jeito ou de outro...
acho que te salvei.
Quando você não quis mais ser você, te dei outra pele, e te vestistes nela como um homem veste roupa de criança - ou de como criança veste roupa de adulto; o desajeito das mangas longas e o sufocar da gola apertada.
Te tirei de ti.

Naqueles seus livros que ficaram comigo, encontrei mais de uma anotação. Uma delas que nunca esqueci foi:
" banal.
está tudo banal.

a música está banal,
os dias estão banais,
os abraços,
as conversas,
os olhares.

as despedidas.

paixões são banais;
que um dia elas passam,
e nada.

banal.
seus banais
tolos
mártires
sofredores:
está tudo banal.
que um dia tudo acaba,
que parece que nem começou.

banais.
são todos banais.
todos vocês:
banais.

todos nós.
 "

Sua letra estava melhor, então acho que foi realmente uma das últimas coisas que você pensou.
Foi minha culpa?
Todo esse teu desencontro - desencontro que teu desencontro me também causou -,
...
vai ver fui eu o vilão.
Vai ver eu deveria ter sido...
ter estado...
ter...

não. Isto teria sido pouco.
Eu que deveria ter sofrido a maldição da banalidade.

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