sábado, 19 de fevereiro de 2011

Da Ressaca

Merda. Está tudo escuro. Meu chão parece mais cama de mendigo, com seus trapos e roupas e coisas de aquecer. Irônico é estar eu neste verão de noites escaldantes, da qual dormir sem roupas pouco me adianta.
Está tudo fodido, isso sim. Diga-me a direção, senhor Tempo, diga-me e, pelo visto, irei pelo lado oposto, pelo contraditório, pelo complicado. O complicado e o contraditóro me fascinam; o oposto também, o oposto do sexo oposto também. Não fui eu quem inventou as regras, não vou ser eu a cumpri-las. O complicado... o complicado me questiona o tempo todo.
- E aí, é isso aí? Só isso aí?
E lá vou eu na minha sempre perspicácia juvenil a dizer-lhe:
-Não, não mesmo. Tem mais!
Nunca me surpreendi comigo mesmo, por mais que parecer surpreso às vezes possa ser saudável para as pessoas que estão ao meu redor. As dão aquela leve sensação de que ainda há algo são num corpo tão... fodido.
Gosto de seduzir o complicado. O complicado me parece mais difícil, e ando em tédio espiritual há tanto, tanto tempo. Tanto tempo que nem lembro. Gosto de conquistar; ser conquistado é tão fácil, mesquinho – pouco se faz força e pouco se conhece de sí mesmo. Conquistar não, conquistar leva tempo, dinheiro; leva paciência, esforço. Conquistar é mais prazeroso. Gosto do prazer. Gosto de me dar prazer; aí conquisto seja lá o que seja para ser conquistado. Posso nem querer, mas passatempo ou é isto ou a bolacha que está mofando em meu armário. Nunca escolho o mais simples, afinal, já disse:
- Não, não mesmo. Tem mais!

O dia insiste em raiar logo quando estou começando a aproveitar a noite. O dia insiste em nascer só para me dizer o quanto estou perdendo tempo. Não entendo, sabe... se queres tanto assim me dizer isso, me deixe dormir à noite também, aí nos entendemos e ficamos todos satisfeitos.
Não, não, meu bem. Não sou um personagem. Já paraste para pensar o quanto se perde tempo dormindo? Dê-me este tempo todo para mim e fiques acordada todo o tempo que quiseres, é uma bela troca. Antes meus sonhos imbecis do que a realidade imbecil que desfila na minha frente de segunda à sexta, e que toma descanso aos finais de semana, onde toma seu lugar a idiotisse de todos que acham que aproveitar a vida é aproveitar cinco horas de festa e o resto de sua ressaca mal resolvida, de sua vida mal resolvida, de seus amores mal resolvidos provenientes de sua família mal resolvida. Eu não, sou muito bem resolvido: prefiro meus sonhos imbecis. Quem não prefere? Ou vais me dizer que a realidade é tão bela quanto flutuar pelas florestas, cair em abismos inacabáveis? A verdade é que belo mesmo é acordar para tomar aquele belo copo de água e voltar aos sonhos.
Tudo bem, talvez você esteja me achando um tanto exagerado demais. É que, na realidade, ando sentindo falta dos sonhos. Me perdi deles faz algumas semanas, meses, anos...
não, não. Anos não. Lembro que há uns bons meses tive um sonho belíssimo. Claro, envolvendo a vida real e suas maravilhosas possibilidades de felicidade. Ainda bem que tenho noção de realidade; na verdade, ainda bem que tenho noção das pessoas. E olha que não leio as pessoas como eu gostaria de ler. As leio erroneamente, invento-as histórias mirabolantes – sendo que a maioria sofre de amores eternos por mim, tamanho egocentrismo. Mas não é minha culpa. Tenho uma família disfuncional, você também não tem?
Não?
Ah, por favor. Vamos fazer um trato. Eu concordo em concordar com você e você concorda em concordar comigo e tudo fica espetacularmente bonito.
Aí você para de ler por aqui, e eu não preciso me esforçar a continuar falando para alguém que pouco acredita nas palavras de alguém que, provavelmente, tem muito menos idade que você. Eu espero.


II


Acordar depois de uma noite destes sonhos que não tive... que mesmo sendo sonhos que não lembro, estavam melhores que esta casa quente e bagunçada, que mais me lembra minha mente.
As portas fechadas, as janelas fechadas, as cortinas fechadas; de que adianta uma mente aberta que não sai para ver o mundo? Mas do que adianta um mundo sem o quê para ser visto?
Nunca entendi direito a lógica, o raciocínio da vida; e, na realidade, acho que nunca o entendi por perceber ser simples demais. Acabo complicando por me sentir injuriado com esta simplicidade. É só isso? Não, não, não pode ser só isso!
Dentro desta fauna de demônios que me seguem, dentre os mais perigosos estão aqueles que criei. Os que me apareceram pelo caminho lidei como lembranças de quinta, agora: como sou prepotente, até mesmos meus medos nascidos de mim são mais amedrontadores.

Um comentário:

Ester Mendes disse...

Minha vida, livro aberto.