sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Cartas póstumas de Canastra, capítulo 1, parte 1

Segunda-feira, 02:36 da madrugada. Talvez isto seja não saber de nada. E nunca entendi os que dizem "não saber de nada". Se não sabem de nada, então devem saber de tudo...!
Vi hoje um cara tapando a luz que vinha de um carro. Como sua sombra era enorme! Ali sim o vi. Talvez pessoas que até mesmo saibam seu nome não tivessem o entendido tão bem quanto eu o tenha entendido naquele momento. Digo... sua sombra era enorme! Viam os que o chamavam pelo apelido o tamanho de sua sombra? Viam, de fato, a grandeza que era o seu alcance?
Quer dizer... para uma sombra daquele tamanho sua luz tem de ser muito forte, não? Para ter de ter uma sombra que conseguisse chegar ao outro lado da rua tão antes dele, era impossível sua luz ser do tamanho daquela esquina.
Entendem?
Talvez um dia, quando lerem, entendam. Não sei. Pouco me importa, na realidade. Na realidade:
me importa colocar no papel tudo isto para que pelo menos na minha cabeça não fique. Depois fico ali eu remoendo,
remoendo,
remoendo...
o papel que aguente, pois não aguento mais!

O chão está gelado e já são 02:41. Não faço muita idéia das coisas que pensei até agora. Não saberia explicar de novo. Eu saberia explicar, quem sabe, aquele olhar; mas ai seria muito chato. Vocês não gostariam. Gostariam?
Não sei. Sei que o chão está gelado. Pelo menos algo gelado neste calor tropical e cinza. Calores cinzas são os piores. São pesados e fica muito difícil de respirar. É um calor sujo. É um suor sujo. É sujo. O chão está sujo, claro; sorte que gosto do refresco sujo. Ao menos me livra deste calor, ainda que o objetivo não seja ser uma pessoa fria.
Mas este calor não. Este arde a pele, angustia a alma. É de deixar sem ar. É de deixar o ar pesado e difícil de respirar.
Às vezes é de deixar difícil de respirar.

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