segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Bioconversada.

- Pode parar! - mandou o pedinte.
Parei, olhei. Continuei olhando.
- Pode parar! - exigiu o pedinte.
Continuei parado, daí resolví dizer alguma coisa.
- Alguma coisa aconteceu? - foi o que me sobrou.
- Não.
- Não? - e já me perguntava o quão absurda a cena parecia aos outros.
- Exatamente.
- Exatamente como?
- Não aconteceu nada. Quer dizer, você parou quando eu pedí. E pronto.
- Ah.
- É.
O pedinte continuou sentado no parapeito da janela térrea daquele prédiozinho velho de esquina.
Eu continuei esperando algum insite cerebral.
- E agora?
- Agora o quê? - perguntei.
- Parou, e agora?
- Não sei, oras!
- Parou se eu pedí.
- Não, não. Você berrou!
- Sim, tá. E agora?
- Agora vou continuar andando, oras.
- Vai para casa?
- Vou.
- Comer?
- Ahãm.
- Tomar um banho, colocar o pijama.
- É, por aí sim. - não gosto de usar pijama.
- Ah, então tá.
- Então, é isso?
- É, isso.
- Então tá. - e continuei andando, oras.
"Vai entender!", pensou.
- Tá. - continuou no parapeito surrado, de roupas surradas.
Talvez um dia entendesse.
E a noite percebeu seu papel.

Nenhum comentário: