quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Biografia da Bunda Mole

A bunda daquela negra tentava ser artefato de desejo caro. Pena que bunda mole nunca ganhou nada que centavos doados. Pena que estava com pena de mim mesmo. Uma pena.
E isso me lembrava daqueles milhares de penas de pequenas águias à beira-mar de um oceano que fui visitar no último verão. O oceano estava pacífico. Fazia das ondas um acaso raro, sem raiva nem vontade alguma de se fazer sentir algo. Só sabia que era mar pois o nome do lugar levava Praia no começo; se não, por mim, para mim era lagoa mansa.
Mansa como o ar - que me nego a chamar de vento, ou brisa, de tão mansa. Mansa como minh'álma, cansada o bastante para esquecer de reparar na realidade do dia-a-dia. Por isso tinha vindo visitar o mar. Para relaxar.

E a bunda continuava na vitrine; rebolando, dançando. Mole.
Era uma casa no meio de ruas que poucos se atreviam a visitar, mas que ainda assim possuía seu estilo. Ao contrário da bunda era muito elegante. Ao contrário da bunda: era...
firme. Tinha anos e anos, mas firme. Era, a casa, famosa na cidade. A bunda não. A bunda era nova.
E não me restou nada mais a fazer do que aceitar o acordo monetário. Os Drinks me ajudariam a fantasiar o que eu quisesse. Por mais que me parecesse mais barato pagar a mais cara e não gastar com a casa, ao invés de gastar com a casa e gastar na barata e novata.
E era isso o que me restava. Mas isso era o que me sobrava.
A bunda mole.

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