segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Biografia típica

- Ei!
Quando olhei, mal reparei, meu rosto já sentia-se dolorido. Seu soco era pesado, e o chão estava molhado.
- Foi você?
Eu entendia, mas tudo estava sendo rápido demais. Meus músculos não acompanhavam as minhas idéias, então logo a mesma mão veio me puxar do colarinho.
- Foi você?
O barulho, as pessoas. A bebida estava forte. O efeito estava forte, e o soco fora, de fato, forte.
- Não vou perguntar de novo. Outro soco, agora no estômago, quase me fez vomitar as bebidas caras que meu bolso ainda sentia falta.
Conseguindo recobrar a consciência, me disvencilhei.

.

O dia estava horrível.
O dia estava morno, minhas costas estavam suadas, meus olhos estavam irritados.
O dia estava realmente uma merda.

Chego em casa, finalmente. Tinham acabado com a cerveja, tinham acabado com o beck e o conhaque barato estava no fim. Era o fim!
- Puta que me pariu, viu? - eram as únicas coisas que insistiam em sair da minha boca toda vez que olhava para aquela geladeira vazia.
O banho gelado só piorou.
Eu precisava de algo forte. As idéias não vinham.
O barulho do lápis batucando no vazio. Da geladeira. Dos passos lá fora.
Eu precisava de algo forte.
Saí.

Mas peguei minha jaqueta surrada, talvez esfriasse.

.

A porta estava aberta, como sempre.
Nada me impediria. Nem a porta, nem a falta de grana. Nada. Era esse o recado:
Nada me impediria.

E quando percebi...
ela pulava no meu colo como uma lebre fugindo de dentes que saberia muito bem: a comeria de um modo que ela não gostaria. Ela não gosta nem agora, mas sabe que poderia ser pior. Sabe que estou sendo bonzinho.
Sendo que nem eu mesmo sei aonde estou.
Que nem sei mesmo quem sou.
Aonde estou.
Ou onde estou. Nunca fui bom em gramática.
Mas as professoras sempre gostavam de mim. Os professores não.
Ela sabia que poderia ser pior, por isso continuava pulando. E as únicas coisas que eu conseguia dizer eram: "continua, continua".
A música não demoraria muito para acabar.
A porra da música tinha horário marcado. E namorado.

Passei pelo corno na saída do prédio. Engraçado.
"O que ele faria se soubesse?".

.

Voltei para meu caderninho.
As cervejas não reaparecem, muito menos o beck. Me apreoveitei do conhaque.
O caderno surrado me entendia, sabia que eu teria de abandoná-lo aquela noite.

Saí.

.

Me disvencilhei e corri.
E rí. Resolví voltar a honrar o apelido Canastra de ser.

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