terça-feira, 1 de março de 2011

Des-bEla, parte I

Será que vou sentir sua falta, como você provavelmente vai sentir falta minha? Talvez.
Me lembro de nós dois uma vez no parque, nós deitados na grama seca, como personagens de alguma trama feliz. Eu acariciando seus pêlos dos braços e de sua barba mal feita, tentando chamar sua atenção enquanto tinhas um olho em meus olhos e outro nas bundas bontas que passavam.
Sabia da tua necessidade de ser de todos; a entendia; mas naquela tarde, ao menos naquela tarde, te queria inteiro pra mim. Nunca conversamos sobre isso. Deveríamos ter conversado sobre isso?
Talvez.
Assim como eu gostaria de ter te dito coisas naquela vez, a primeira vez em que dormimos juntos em seu antigo apartamento. Não eramos um casal, eramos apenas bons conhecidos, quem sabe amigos; nem lembro o que nos dizíamos enquanto deixavas teu celular tocando músicas que gostavas, e que eu gostava também. Naquela época eu sabia que tinhas uma no teu coração, que não eu; Enquanto eu já estava descobrindo que estavas entrando arrebatadoramente no meu. Mas eu também tinha outro, mas que não sabia nada mais que entrar em minha boca, ou em minha vagina.

Nos conhecíamos há meses, tínhamo-nos confissões feitas. Lembras quando nos beijamos pela primeira vez?
Talvez.
Eu lembro.
Foi em um sonho lindo.
Você estava sentado em um sofá bege de três lugares, com uma porta de quatro águas de vidro de correr que dava em uma minúscula sacada, com um visual de prédios da Grande-Cidade-Grande, e movimentada.
As cortinas dançavam envergonhadas enquanto a luz de um sol de 10 da manhã esquentava o piso cerâmico, e seu rosto. Estavas com olhos gentis, como de quando me olhavas antes. Estávamos envergonhados, parece que tínhamos brigado alguma briga de vida inteira.
Andei até perto de você com cautela, pois por algum motivo aquilo tudo parecia ter sido minha culpa; me sentia com culpa. Me sentei ao seu lado, me olhaste e me disseste com a mesma gentileza dos seus olhos:
-
Tudo bem.
E me beijou.
Talvez tenha sido isso. Talvez minhas espectativas estivessem muito além em relação a nós dois. E digo “a nós dois” pois, apesar de tudo que me dizia e reclamavam ao seu respeito, era você quem eu precisava ver ao final de nossos dias que conhecias tão bem.
Sempre me ajudaste a carregar meus pesos. Garoto,
será que vou sentir falta de você como não acho que vou sentir?

Agora já não importa. As malas estão feitas, as passagens estão compradas e nosso adeus está sendo dado. Obrigado pelo adeus, ao menos; foi uma bela tarde, está sendo uma bela noite e o dia está raiando.

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