quinta-feira, 10 de abril de 2008

Biografia da despretensão.

O muleque não tinha nada o que fazer, foi ao parque. 14 anos de sua vida, ao perceber que não havia nada o que fazer, dirigia-se ao parque - duas quadras de seu condomínio.
O parque era bonito, até.
Tinha árvores, cachorros, famílias e chimarrão. Um parque, oras!
A grama era meio tratada, e o caminho de pedrinhas era interessante.
Mas o muleque não tinha o que fazer, esse é o ponto. Foi ao parque.
Sentou-se como um muleque de 14 anos no primeiro banco que viu vazio. Tarefa complicadíssima! Em um tinha uma mãe com sua cria, não. Outro com um senhor, que com certeza puxaria assunto com o muleque sobre a escola... não. Vários outros com casais felizes, que o muleque não entendia como poderiam ser felizes, e nem queria entender. Não.
Pois bem, encontrou o vazio. Sentou-se, então. Ele gostava de não pensar em nada nesses momentos, no máximo contar os restos de cigarros fumados que espalhavam-se pela pedrita.
Após minutos cansou-se, mudou de posição, colocando a cabeça, pesada como o mundo, sobre as duas mãos; ambas em cada maçã do rosto, fazendo um italiano de gerações mais parecer um japonês canastrão.
Foi lhe dando sono, enquanto os cotovelos machucavam as coxas, onde estavam apoiadas.
E o sono foi lhe dando apoio. O parque era calmo, como o muleque.
O muleque era um muleque sabido, de pouco mulecagem. Um guri que, por falta de palavras, acabei chamando de muleque. Que muleque seja, então.
Um muleque que, de olhos fechados, via mais do mundo que um cego de olhos abertos. Ambos não enxergavam patavinas nessa comparação triste, entenda isso.
Mas viam.

O muleque cansou, os mosquitos começavam a pinicar sua perna.
Fez a volta para casa em silêncio absoluto. Entrou em casa, foi ao quarto. Fechou portas e ouvidos.

...


Bem vindo para mim, bem vindo para eu, bem vindo.

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