sexta-feira, 11 de abril de 2008

Grafia de uma bio escrita.

- A dor. O que é a dor? Minhas mãos sangram agora. Meu coração constantemente sangra, e as veias do mesmo constantemente sangram pela vida.
Estava de joelhos no grande palco, com as mãos percorrendo seu rosto, seu ombro, seu corpo. O rosto em puro desespero.
- O que é a dor? Me digam, pois não sei. É o sangue percorrendo a tua pele rasgada?
Só?
As lágrimas escorreram, timidamente, pelas maçãs de suas bochechas vermelhas e enrugadas. A cena estava deixando-a velha.
- Nos desesperamos ao ver o sangue, não sabemos lidar com o sangue, mas nos orgulhamos do sangue, mas detestamos nosso sangue!
Com as unhas cravadas na pele do seu braço, chorou desesperada.
- A dor não é isso, não pode ser só isso! - concentrado-se novamente. A dor não é a visão de seu sangue não estar mais onde deveria estar, a dor é a visão de que a sua vida não está mais onde você gostaria que ela estivesse. O sangue não passa de uma figura ultrajante e simplificada. E...
Com passos calmos, estalou o piso de madeira por onde passava. Tirava o lenço de sua cabeça. Amarrava o lenço na sua ferida e mão. Acolhia a ferida, não mais exposta, em seu ombro. Recostava sua cabeça em sua mão ferida, abraçava a si mesma.Suspirou, e voltou a deixar as lágrimas escorrerem.
- ...quando já não temos o que fazer diante da dor, pelo que lutar, deixamos o sangue escorrer como desculpa para nos entristecermos. Nos enfraquecemos, ao ponto de nem dor sentir. De sentirmos apenas desespero! Desespero, de tamanha dor, que apenas nos entregamos...
vedamos os olhos,
apunhalamos a esperança,
damo-nos mãos a nós mesmos,
baixamos a cabeça. Tudo para apenas deixar claro:
nos rendemos.
Cambaleante, ajoelhou-se. Fingiu um desmaio, deixou as últimas gotas de seu estoque de sangue caseiro escorrerem pelo palco.

- Próxima! - gritou o diretor entediado.
Levantou-se, desesperançosa. Sabia que não servia para este papel. Não queria ter de explicar algo tão especial, tão porcamente.Ele não sabia o que era sentir dor, então, provavelmente, passaria seus dias entediado sem saber o que era sorrir diante das câmeras.
- Você estava ótima - susurrou uma concorrente.
- Mentirosa - susurrou à concorrente.
- Não sou tão boa atriz como você - e entrou em cena, já em prantos, chorando.

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